nós, os vilões, somos tão
delicados e tão incapazes de qualquer mal. com nossos ossos partidos e nossos
corações quebrados, com nosso exagero fingido e disfarçado, com a espera
inquieta pela felicidade que nunca veio, pela alegria que não nos alcança, nós
os vilões sorrimos. mas das janelas clareadas pela noite, nossos olhos
vasculham o mundo e só encontram a
sombra daquilo que não vimos; nós, os vilões, somos tantos e nos sentimos tão
sós. somos tantos. no cair do escuro, no arfar dos anos, no quebrar dos
desencontros. Só queríamos dançar, com nossas couraças floridas e laços a
enfeitar nossos chifres de monstro. Nós, os vilões, e nossos pés feridos, temos
tanto medo de cruzar o escuro e a morte. e do fundo das festas e das igrejas,
ou do alto dos prédios, debaixo dos bares, sob camadas de ternos e tetos, nas
quinas da noite, nos porões da cidade, na solidão absoluta de nós mesmos – nós,
os vilões, sorrimos. nossa tão delicada,
tão vulnerável, tão carinhosa, tão insustentável maldade.
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