quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nós, os vilões



nós, os vilões, somos tão delicados e tão incapazes de qualquer mal. com nossos ossos partidos e nossos corações quebrados, com nosso exagero fingido e disfarçado, com a espera inquieta pela felicidade que nunca veio, pela alegria que não nos alcança, nós os vilões sorrimos. mas das janelas clareadas pela noite, nossos olhos vasculham  o mundo e só encontram a sombra daquilo que não vimos; nós, os vilões, somos tantos e nos sentimos tão sós. somos tantos. no cair do escuro, no arfar dos anos, no quebrar dos desencontros. Só queríamos dançar, com nossas couraças floridas e laços a enfeitar nossos chifres de monstro. Nós, os vilões, e nossos pés feridos, temos tanto medo de cruzar o escuro e a morte. e do fundo das festas e das igrejas, ou do alto dos prédios, debaixo dos bares, sob camadas de ternos e tetos, nas quinas da noite, nos porões da cidade, na solidão absoluta de nós mesmos – nós, os vilões, sorrimos.  nossa tão delicada, tão vulnerável, tão carinhosa, tão insustentável maldade. 

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