terça-feira, 5 de maio de 2009

A pale horse


Da janela do hotel eu vejo um palhaço, cujo chapéu crispado me lembra a morte. No outro prédio, alguém fecha as cortinas e apaga uma luz: aqui dentro, sozinho, com os braços pesados, abro a gaveta do criado-mudo e encontro o Novo Testamento.
A página diz, em inglês: And I looked, and behold a pale horse: and his name that sat on him was Death, and Hell followed with him.
Lembro-me de Cash, mas considero as revisões, as implicações e a distância. Alguém liga a televisão no apartamento contíguo. Alguns passos no corredor se assemelham ao estalar do meu maxilar. O terno espichado dentro do armário, o quadro barato na parede.Corro os dedos pelas linhas da bíblia:
And power was given unto them over the fourth part of the earth, to kill with sword, and with hunger, and with death, and with the beasts of the earth.
Há uma aranha dependurada ao lado da lâmpada, as oito patas em forma de figo, os milhares de olhos invisíveis aos meus. No que se atenta? Estaria me vendo? Seus milhares de olhos concentrados no que eu não sei. Ela balança para um lado e para outro, sem que haja vento. As janelas estão fechadas. Penso em como as ações se esquecem do sentido, e como é fácil escrevê-las ao léu, tentando que sua simples menção nos impressione com sentido. Mas são apenas atos e estados: o palhaço que dança, a janela fechada, a aranha cujos olhos eu não enxergo. E então eu vejo, e eis um cavalo amarelo, aquele que está sobre ele se chama Morte, e o inferno o acompanha. Fica melhor em inglês, pondero e fecho os olhos. Algumas horas depois começaria a chover.


Um comentário:

  1. O que isso me lembrou

    - Um ebook que li sobre o Bob Dylan

    - Donny Darko

    - Uma história do Homem Aranha chamada "Spiderman Reign".

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pode falar, eu não estou ouvindo