escrito em 13 de novembro de 2005
Infelizmente, esse relato é verdadeiro
Infelizmente, esse relato é verdadeiro
Sob a égide do discernimento, pouca coisa resta. Restam canções tocadas no volume mínimo, um cálculo torto percorrendo a parede e um semi-eu pouco à vontade com o imediatismo dos outros. E o seu próprio. Eu conto as pontas de seringa, e os restos de cigarro, espalhados pelo chão da sala como meninos e meninas jogados pelas calçadas. Há um cheiro de perda e decepção, e uma menina muito branca segurando as minhas mãos. Ela me conhece por conveniência, me diz algumas poucas adversidades, e gosta das músicas que eu gosto, em graus variados. Eu queria muito conversar sinceramente, mas apenas repito cenas de filmes. Filmes ruins. Olho em seus olhos e me pergunto se ela está tão perdida quanto eu. Se ela entende tão pouco quanto eu as relações entre os seres, e tente sobreviver ilesa aos erros dos outros. Ela me responde: “ Houve uma época em que eu ouvia muito punk” E eu encontro séculos sob sua pele lisa. Estamos tão velhos, sentados no final de uma festa, em algum sábado cheio de desencanto. Eu poderia estar em casa, dormindo. Poderia estar sonhando, mas não. Quando beijo a menina branca cor de insônia, sei que estou me ferindo. Sob a égide das boas intenções os dedos ousados afundam embaixo das saias. Não há a mínima chance de uma poesia, mas há fartas possibilidades de libido. Há fartas possibilidades de engano. Assim que eu voltar para casa, tomarei um banho para tirar de mim o seu perfume, o seu instante de prazer consciente, o seu erro mais leve, o meu defeito peculiar: a falta de alguém para amar sem parecer distância. Tomarei um banho para me limpar da noite. Mas sei que me deitarei com a alma suja.
"I want so badly to believe that "there is truth, that love is real"
ResponderExcluirAnd I want life in every word to the extent that it's absurd
I know you're wise beyond your years, but do you ever get the fear
That your perfect verse is just a lie you tell yourself to help you get by?"
Tem textos seus que eu só consigo comentar com citações, essa é a verdade...
Texto difícil de comentar, então eu vou de parabéns mesmo. A gente ainda vai comemorar o lançamento do seu livro e o 1 ano do seu site. Aí vc me faça o favor de não me esquecer quando ficar famoso.
ResponderExcluirBeijo!
As almas são (e, logo, estão) todas (e sempre) sujas.
ResponderExcluirVandré
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelo texto.
ResponderExcluirAlgo tão humano, mas tão animal. Ainda haverá um dia em que nós ultrapassaremos essas vontades que não são verdadeiramente nossas.