segunda-feira, 29 de junho de 2009

O mês que não quer acabar


Algumas coisas me foram desaprendidas em junho. Perdi o senso do espírito e desandei, outra vez. Se antes voava, hoje nem sei. Talvez os meus pés estivessem levemente acima do chão, ou talvez fosse a ressaca ou o a falta de norte – a gente bem sabe que o mundo gira errado e sem coração. Preocupou-me sobremaneira o tamanho das vírgulas, a presteza dos pontos, a distância das letras, mas não o verso. Mas não a prosa, nem a epopéia. Em junho não inventei língua alguma, não escrevi uma carta, nem disse oi aos meus amigos mais nobres. Nunca fui tão desapaixonante quanto em junho. Alguma coisa ficou rachada. Suspeito que a cabeça, para que nela entrassem dúzias de preocupações medianas – e não para que fluísse dela qualquer utopia. Acho que calculei demais os passos e, quando maio pareceu-me mecanicamente circunscrito, ou quando abril ainda descrevia um céu de elipses, a receita de junho não vingou.
Tantos textos escritos para tão pouco coração. O esforço paulatino de desregrar meus sonhos, de favorecer meus medos e aprender a dançar conforme a disritmia. Se de uma palavra desses dias passados, você puder resgatar uma gota do Zé que já cantou, peço que, por favor, pingue com ela qualquer i da minha individualidade – vez por outras ela tem me faltado. Algumas coisas me foram desaprendidas em junho, e eu terei que começar do zero. Não sei se foi o excesso de esmero ou a falta da prática. Mas aos 22 anos, com essa altura de moleque e essa má vontade de velho, passo meus dias resgatando o sentido do passar dos dias. Um ante o outro, não como um viciado em cigarros, mas como alguém jogado dentro de um mês que não acaba, que fica demorando, fazendo hora, que não sabe se passa logo ou mal. Tanta vontade que tenho agora de que julho chegue e, com ele, meu espírito venha passar as férias por aqui. Até por que junho foi o mês das cascas.



3 comentários:

  1. Junho é sempre o mês que não quer acabar, meu caro.
    Há tantas preocupações de fim de semestre e tantos desejos por um descanso merecido que o anseio, a impaciência e a pressa não permitem que o tempo psicológico se destrave e caminhe em sua passada normal.

    "que não sabe se passa logo ou mal"

    Abraço!

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  2. Bem, tenho tido um bom junho, mas não deveria dizer isso. E certos meses são mais longos e complicados e eu sempre tenho péssimos maios e agostos terríveis...

    (Bônus track: conheci um núcleo bem legal de goianienses aqui no Rio, da área de comunicação. As mulheres goianienses são impressionantes, by the way. Mas não, não vai rolar nada...)

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  3. Eu até que gostei de junho, mas foi um mês de crise criativa. só escrevi coisas irrelevantes na maior parte do tempo.

    acho que é o fim do semestre que faz isso.

    beijo. ;*

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pode falar, eu não estou ouvindo