terça-feira, 9 de junho de 2009

young love


Como eu já deixei bem claro aqui e acolá, a adolescência não é a minha fase favorita da vida. Até por que eu nem considero uma fase da vida propriamente dita. Parece mais uma daquelas doenças clássicas que todo mundo têm uma hora ou outra, tipo caxumba, sarampo, adolescência. Um dia você acorda e seu corpo está todo esquisito. Nascem coisas estranhas de lugares inusitados e você começa a pensar se realmente o ser humano foi uma daquelas boas idéias de Deus, ou se foi algo como uma pegadinha infame. O seu pensamento logo muda, por que seu organismo é subitamente inundado por hormônios sertanejos e você começa sentir uma tendência irresistível a ser um pé no saco dos outros. Mas enfim, esse texto não é sobre adolescência, mas sobre atitudes adolescentes fora de hora.

Conversava recentemente com uma grande amiga sobre como, muitas vezes, no quesito relacionamento, nós adotamos atitudes adolescentes endêmicas. Pelo que se entende, o rumo natural das coisas é evoluir, amadurecer, se tornar mais sábio, menos burro, mais esperto, menos revolucionário e assim por diante. No geral, a gente vai crescendo ou se acostumando com certas mudanças: você já não tira aquele cochilo das 14 às 18h na terça-feira e, embora faça falta, descobre que é possível viver sem ele. Você começa a pensar em trabalho, em estágio, em ganhar dinheiro. Até suas bebedeiras, se você bebe, se tornam mais comedidas (ou não). Mas enfim, de uma forma ou de outra, as pessoas te olham na rua e acham que você já é um adultinho. Acontece que tudo isso desmorona pateticamente quando você volta ao quesito pré-relacionamento amoroso. Mais especificamente naquele momento crucial em que você se interessa por alguém e não sabe como anda do outro lado. E então lá vamos nós de novo reviver diálogos como:

- Será que a atitude dela quando me viu quis dizer alguma coisa?
- Depende, o que ela fez de diferente?
- Espirrou.
- Hmmm.
- Mas foi um espirro assim, sabe? Meio de lado? Não sei, tinha coisa.

Recomeçamos logo a tecer conjecturas baseadas em espirros, finais de frases e comunidades no orkut. A pessoa-alvo se torna um alfabeto simbológico ambulante, do tipo que faria Saussure revirar os olhinhos. Se ela levantou da cadeira pela direita, pode significar que não estava afim de conversar. Se ela veio conversar, pode significar que ela estava tentando ser educada. Se o abraço foi apertado, ela está carente. Se não teve abraço, ela te odeia. Se ela está na comunidade Gravação do dvd do Bruno e Marroni – eu fui.... bem, não sei o que dizer sobre isso. E assim, nós, adultinhos trabalhadores, voltamos a ensaiar em frente ao espelho a melhor tonalidade do oi a ser dito no dia seguinte:

- Oi! Não, muito seco
- Oooooi! Não, muito loira burra
- Oi!!! Não, propaganda de tv demais.
- Olá enfermeiraaaa.. Ok, vou voltar pra monografia.

É, eu também vou voltar pra monografia. Enfim, era só para dizer para essa minha amiga que ela fez a coisa certa, que vai dar tudo certo e que, não, uma espinha só, no alto da testa, não é motivo para ficar em casa no sábado a noite. Terminando, deixo aqui uma musiquinha bem legal que fala exatamente sobre isso: http://www.youtube.com/watch?v=qz-FoGp3p0s

9 comentários:

  1. Gostei do texto, caro José: sensível e verdadeiro.

    Lisandro

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ri muito aqui. Agora vc conseguiu me fazer comentar. E o pior é que é tudo verdade. Agora eu fico imaginando, será que solteirões de meia idade fazem a mesma coisa?
    Bjo!

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  4. Zé, adorei o texto.. Mas adorei mais ainda constatar que a gente tá olhando diferente, pra rumos diferentes... Eu, pelo menos, tenho certeza de que estou.

    E tem mais.. Não sei se é com todo mundo, mas eu sou adulta demais para umas coisas, e adolescente demais para outras... As gerações e comportamentos se misturam em mim, eu acho.. ahahha

    bjusssss

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  5. Primeiro quero ressaltar que Mistery Jets ruleia, como diria um amigo meu.

    E todo mundo quando fica afim de alguém age de forma besta. Exceto as pessoas naturalmente bestas, que agem de forma absurdamente besta...

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  6. ai ai, esses seus textos tão adequados. *-*

    adorei, Zé. ;***

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  7. Traduziu direitinho:
    "A pessoa-alvo se torna um alfabeto simbológico ambulante".

    Muito legal!

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pode falar, eu não estou ouvindo