domingo, 12 de julho de 2009

Ela dizia que parecia uma despedida





A verdade é que eu me embaralho todo. De repente tenho mil dedos e nenhum bolso, mil olhos e nenhuma luz, mil desculpas para nenhum consolo. Também quero amar por merecimento, eu digo. Sei, porém, de uma duzia e meia de garotas que ririam dessas coisas e contestariam: você, zé? Logo você? É que coleciono insensibilidades. Guardo-as em formol, ou presas pelas asas no meio de enciclopédias. E ainda assim, há um coração que existe para tocar com as mãos. E há esse maldito violão, pendente na cama e mudo. Mudo mas atento, para o caso de uma surpresa. Dê-me também da clareza que eu tenho para outras cartas, mas se eu falasse a Deus, se eu pedisse, sei o que ele diria: Dessa clareza é obséquio o entregar-se. Acontece que eu não me entrego.Não é por mal, não é por mal. O fato é que sofro de certa síndrome de Estocolmo e me abraço às correntes - Não queria estar preso mas, sem mim, o que seria dessa cela?


Fico por aqui, sem ter dito o que devia, nem o suficiente para me desembaraçar. Sem ter sido claro ao que me é caro ou me encarece: certas coisas não se escreve e, quando se tenta, a poesia desacontece, mirra, espirra e desvia. Queria ter tantas palavras quanto revelias. Não ter é agonizar sozinho - sem dramas, sem música de fundo, sem novelas mexicanas: nada de muita cor nem de pouca - a vida em sua certa medida já bastaria.

3 comentários:

  1. (+1) Ponto de bônus por ter citado no post uma música que eu ouvi pela primeira vez hoje.

    Uma vida sem grandes emoções não seria o preço de uma vida sob controle?

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  2. Não precisamos colecionar insensibilidades, nem ter vida de novela mexicana. Às vezes a gente grita, ás vezes se cala. A verdade é que precisamos de todas as cores, em todas as intensidades.
    O importante é viver de verdade, sempre.

    Beijos.

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  3. “De repente tenho mil dedos e nenhum bolso, mil olhos e nenhuma luz (...)E há esse maldito violão, pendente na cama e mudo (...) sem ter sido claro ao que me é caro ou me encarece (...) nada de muita cor nem de pouca - a vida em sua certa medida já bastaria”

    Só consegui repetir!

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pode falar, eu não estou ouvindo