terça-feira, 7 de julho de 2009

Três coisas detestáveis


Não detesto muita coisa. Na verdade, sou mais do tipo que gosta de muito. Mas aqui seguem três exemplos daquilo que, convenhamos, não precisava existir:


Atendentes sem noção cronológica

Acontece muito comigo em restaurantes de comida por quilo. Estou lá, serelepe, tentando encontrar algum bago de feijão no meio daquela água toda, quando me surge o garçom. Geralmente é um rapaz, geralmente tem um bigode e geralmente traz uma bandeja. Ele me olha, sorri e, diligentemente pergunta:
- O senhor vai beber alguma coisa?
Pronto. Eu me olho. Faço uma perscrutação minuciosa de mim mesmo e me indago: onde diabos ele está vendo um senhor? Quero dizer: eu não sou casado. Uso camiseta e calça jeans, não sou mais velho que ele e provavelmente sou até menor. Falta alguns quilos na barriga, algumas notas na carteira e alguns filhos espalhados para eu me considerar um senhor.
- Não obrigado.
E vai o garçom, feliz e saltitante, perguntar para a adolescente com uniforme de colégio na mesa ao lado:
- A senhora quer beber alguma coisa?

Propagandas da Ricardo Eletro


O trailler de um filme com Van Dame e Steven Seagal nos papéis principais não teria mais ação que uma propaganda da Ricardo Eletro. Em dez segundos, você, sua casa e todo o perímetro adjacente são bombardeados por saraivadas de preços imbatíveis e toneladas de promoções em queda livre. Outras lojas de eletrodomésticos já haviam celebrizado a arte de falar o maior número de palavras no menor número de segundos com o maior diâmetro de sorriso possível. Outras lojas também já sedimentaram a idéia de uma alegria tão instantânea e rápida que parece uma ejaculação precoce. Mas só o Ricardo, ele mesmo, negociou diretamente com os fornecedores para conseguir as primeiras propagandas de aventura da televisão nacional. Comprar uma batedeira de bolo nunca foi tão excitante.


Senhoras em pontos de ônibus

Você está no ponto há meia hora, a senhora acabou de chegar. Ela vai te perguntar:
- O ônibus fulano já passou?
Não responda. Não responda! Ou diga coisas deselegantes como:
- Seu cabelo parece uma marmota.
Mas não responda. Se responder, ela vai ter certeza da sua boa índole e vai se sentir a vontade para conversar. Em dois minutos, estará tamborilando os pés de impaciência e reclamando de como o transporte público é desrespeitoso. Frisa-se: você está no ponto há meia hora, e ela há dois minutos. Em cinco minutos, se você der moral, ela vai iniciar a narrativa de sua longa epopéia de vida. Vai dizer onde ela precisava estar, por que ela está atrasada (estão sempre atrasadas), quem a espera lá, quem ela deixou em casa. Logo você descobrirá que a filha dela teve um menino com um cafajeste que fugiu para a Bahia. Seu ônibus chega e você pula aliviado, imaginando que, em 10 minutos, ela já estaria te chamando de futuro genro.

6 comentários:

  1. Zé e suas expressões... diâmetro de sorriso! Talvez por serem diferentes, originais, ou por descrevem tão fielmente a coisa, a imagem surge instantânea na memória.
    Gosto disso, é como se o leitor interagisse com o texto mesmo sem querer.

    Bj

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  2. Ricardo Eletro é meio que o Michael Bay da venda de eletrodomésticos...Todo micro-system é uma experiência de vida...

    E eu odeio ser chamado de senhor...

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  3. hoje eu descobri a coisa que mais me irrita na vida e lendo esse texto eu lembrei dessa descoberta.

    nossa, sério, eu quase *mas quase* bati na velha-senhora que estava fazendo o que me irrita. foi tenso, muito mesmo.

    imaginei de forma tão real a cena em que eu virava a pasta que eu estava segurando na cara dela, que quase me desculpei sem ter feito nada.

    beeijo, Zéé. ;***

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  4. Ah zé..deixa de ser mole!
    (ps): postei anônimo pois não quero ser identificada!
    =*

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  5. e vê se não vai me rastrear com seu super site meter...

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pode falar, eu não estou ouvindo