domingo, 30 de agosto de 2009

egeu


Queria ter um barco, que era para voltar para quem me ama e achá-la ali. Se eu precisasse me disfarçar de velho – a coluna já tenho torta, os olhos já tenho pálidos. A vida cobra quanto pela sabedoria? Queria ter um mar. Tão azul e fundo quanto deus, eternamente desconhecido – algo que eu pudesse navegar sem ver terra. Pois me disseram: então é de paciência que se tece o tempo. E de constância que se firma o fuso; a gente aprende quanto até ser sábio de verdade? Por que toda noite as minhas mãos desfazem um pouco do tecido; essas penélopes malditas chorando no escuro. Eu ainda espero sentado, novo e vulgar, querendo me casar com a memória de um herói morto.
Então são ilhas mas não são gente: cada um sozinho em sua porção de mar – sem boa esperança que dê cabo – mesmo quando o escuro ao redor começa a ceder – talvez eu prediga o que só a manhã diria. Queria ter um barco, mas barco para que? Queria ter um barco, mas só tenho um mar.


2 comentários:

  1. "Queria ter um barco, mas só tenho um mar."

    Putz, isso está ficando forte, cara. Cada vez mais impressionante.

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  2. Zé, pára com isso. Esses textos seus são só, no fundo, meios (meia-boca) sedutores de mocinhas ingênuas e inocentes! Vê se escreve um romance pra gente ficar pelo menos algumas horas presos a sua literatura. Desse jeito vc não chega nem ao pés de Álvares de Azevedo. Quem sabe, no máximo, pega uma gripe suína e morre aos 23. Virgem.

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pode falar, eu não estou ouvindo