segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Rock errou


Voltei ao roque no dia do meu aniversário, como quando era um adolescente bestial. Fui ao show do Marcelo Nova na calourada do DCE. E confesso, abestalhado, que estou decepcionado. Por que as pessoas batiam palmas para um homem que mal conseguia ficar de pé no palco? Por que as pessoas falavam como se fossem únicas e agiam como se fossem as mesmas? Por que defendiam a conscientização dos problemas sociais se estavam todos jogados e inconscientes pelo chão, bêbados demais para saber os próprios nomes? E que liberdade é essa que nos escraviza a uma imagem de rebelde, a um cigarro de maconha, a uma latinha de cerveja, ao instinto?

O Rock errou. Não há liberdade nessa juventude. Há escravidão. Há falta de sentido. Logo sobe ao palco um negro tão bonito, tão bonito, mas suas palavras se embaralham, suas frases não terminam. Ele diz: Liberdade! Ele diz: Contra o preconceito! Mas titubeia: está vencido. Na platéia, todos fazem as mesmas coisas. A felicidade que se estampa em seus rostos é brutal, inumana. Parece leve à sombra, mas se a luz revela os traços, o rosto se deforma num sorriso involuntário de escárnio. Todos eles conhecem os livros que deveriam ler, escutam as músicas que deveriam escutar. Todos eles estudam as ideologias que deveriam seguir. Estão todos em débito com o Rock. Vejo as mesmas pessoas da minha adolescência bestial – estão lá ainda. Mais velhos, mais gordos, bêbados do mesmo jeito. Ainda estão lá. E eu, que passei anos longe, volto e digo: Boemia, aqui me tens de regresso. Mas nada peço. Parece mesmo uma foto antiga. O Roque continua igual, mas eu mudei demais. E se há um espírito do rock, que tantos endeusam, ele não passa da fumaça de cigarro e de meninas belas e tristes transando com desconhecidos. Se essa é a liberdade, meus amigos, eu prefiro me aprisionar na vida.


5 comentários:

  1. Esse eu tb li!!
    =D

    ps.: vc não tem mais amigos na facomb agora...

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  2. Engraçado quando dá pra ver que as pessoas se sentem na obrigação de ser rebeldes, aquele nível de rebeldia que consiste em beber, fumar e fazer besteira. Nada contra esse trinômio, mas vamos pelos menos fazer por vontade própria, sei lá.

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  3. Você sabe quem é...21 de agosto de 2009 às 11:24

    Posso dizer que tive a honra de te reconduzir ao rock naquele dia tão especial em que comemorava seu aniversário. Confesso que o seu sentimento em relação à atitude das pessoas é o mesmo que tenho há algum tempo, mas que aprendi a conviver a partir do momento que parei de tentar dar um sentido àquilo tudo.

    Na verdade me parece é que as pessoas somente buscam na vida motivos para esbravejar, gritar e fazer atos considerados inapropriados. Para isso se esncondem atrás de um ideal que afirmam defender, mas que no fundo não faz sentido algum para elas.

    O mais impressionante é que essa minha constatação veio após o convívio com pessoas de diferentes classes sociais, etnias e estilos. Essa característica se manifesta em algumas pessoas de maneira mais simples e em outras de um modo mais sofisticado, porém sempre chego a esta fórmula comum.

    Creio, meu amigo, que sentiu um pouco de repúdio ao rock naquele dia por ser algo que considerava muito durante a adolescência. Você evoluiu, mas não o movimento que admirava.

    Agora cabe a você a escolha: aceitar o rock maneira "errada" como se apresenta ou deixá-lo de lado mais uma vez...

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  4. Olha aí. Todo mundo comentando anônimo. Pessoal tem medo de estragar a reputação se identificando aqui.

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  5. Muito bom Zé...
    Vou passar a entrar mais nesse blog!!

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pode falar, eu não estou ouvindo