I
não quis das horas
outra coisa além do espanto
lá, atrás da aurora em revoada
ainda existe um jardim
mas logo ele também se espalha
não quis da tarde
mais que telhados enegrecidos
e pessoas que se despedem
sobre um céu que, ausente, morre
a prova azul de minhas falhas
II
foi um dia longo, ocaso
largo como um drakkar
perfeitamente explicável
por conta, planilha
remuneração
foi um dia ou um sermão?
não sei, estive ausente
o dia inteiro, estive longe
um dia longo, ocaso
quase sempre é carente
agora quero apenas
que a tarde mastigue
a silhueta de prédios e asas
das praças e das igrejas
e a volta encurvada
dos homens para casa
III
se finalmente me encontrares
na esquina do liceu
no mercado central, na feira
com flores no lugar das mãos
e pernas maiores que a primavera
por favor não te assustes
acaso estive a tarde inteira
tão cinza e pouco humano
que quase me esqueci de mim
e agora é preciso um tanto
de circo eum tanto de pranto
de circo eum tanto de pranto
para reaver
meus olhos de bijuteria
meus pulsos vazados de luz
a fina, quase imperceptível
pele de uma certa alegria
com flores no lugar dos dentes
e pernas maiores que a noite e o dia
meus olhos de bijuteria
meus pulsos vazados de luz
a fina, quase imperceptível
pele de uma certa alegria
com flores no lugar dos dentes
e pernas maiores que a noite e o dia
IV
só a tarde sabemos dos ossos
pois a tarde é um órgão humano
azul em seu tecido, vermelho no que secreta
entardecer é virar o dia ao avesso
com as tripas para fora
e vesti-lo sobre a cabeça
só à tarde é que vemos o pus
a morte mesmo é uma deusa vespertina
e cada dente que o dia expele
acaba fincado no céu, preso por veias
formando a bocarra fatal
do monstro que nos espera
Ok, com o drakkar você realmente me fez ter que começar uma pesquisa...
ResponderExcluirTe definiram pra mim como um cara que consegue fazer poesia sem causar vergonha alheia, e eu sempre tenho que concordar com esse conceito.
obrigado, joão!
ResponderExcluire eu te definiria como o único cara que comenta minhas poesias sempre! te devo uma!
Drakkar é uma coisa legal. E continue escrevendo, viadinho. Gosto de ter coisas boas pra ler durante as longas horas de estágio.
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