quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

dias ruins


Juro que tentei escrever alguma coisa nesses ultimos dias. Algo que fosse razoável ou, pelo menos, irônico quanto às circunstâncias. Costuma-se dizer que as pessoas interessantes são aquelas capazes de fazer troça das próprias tragédias. Bom, desconfio que eu não seja tão interessante assim... Dias tristes podem ser positivos, por gerarem inspiração ou filosofias de boteco. Nos dias tristes parece mais fácil pensar em coisas como o tamanho do universo, a injustiça do mundo ou a importância da trilha sonora para seriados americanos. Dias de raiva, por sua vez, costumam dar chance a grandes discursos e revoluções de dois minutos. Pelo menos movimentam um pouco, liberam alguma energia.

Mas os dias ruins não. Os dias ruins são, por definição, ruins. Ou em outras palavras, os dias ruins não são bons. Ou ainda, para ser mais específicos, os dias ruins são péssimos. Deixam aflorar meus maiores defeitos, me tornam inseguro e quebradiço, me fazem mendigar migalhas de atenção, um elogio que seja, uma demonstração inusitada de carinho, ainda que nada resolva. Dias ruins me transformam em velho rancoroso, incapaz de relevar certas coisas que, em outros dias, nem seriam notadas. Você acha que nunca ficará irritado por que passarinhos fizeram ninho no jardim em frente a sua janela? Ou por que o motorista do ônibus usa mais adereços que a Hebe Camargo? Pois bem, espere os disa ruins. O único alívio é que eles passam; o tempo trata de escancarar sua pequenez. Se observados do futuro, os dias ruins passados têm um quê de pastelão mexicano - tanta firula, tanto sangue de ketchup, tanta pierroíce que me pergunto, constrangido: como pude sofrer por algo tão mínimo? E chorar tão borrado? Mas enquanto estou neles, é como se nunca fossem acabar.

8 comentários:

  1. Bom dos dias ruins é que eles passam. E quase sempre deixam mesmo essa sensação de que, como o menestrel errante do desenho do pica-pau, por nada fizemos uma superprodução.

    De qualquer maneira, man up, dude. (imaginei Hebe dirigindo um ônibus)

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  2. talvez a idéia de que ainda vamos rir disso tudo torne as coisas mais amenas
    mas enquanto estivermos mergulhados, será difícil dimensionar o "lago", tudo vai parecer muito grande e obscuro.
    bj

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  3. O bom é que passa. Ânimo, amiguinho.
    Bjos.

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  4. Olha, eu fico lendo seu blog e todas as vezes chego a mesma conclusão: você é praticamente a minha versão masculina.. dificilmente discordo de algo do que você escreve, pelo contrário, concordo plenamente. Um dia ruim, para mim, é exatamente isso que você disse..

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  5. Muito bom!
    Bela tradução dos dias!

    "tanta firula, tanto sangue de ketchup,... que me pergunto: , constrangido: como pude sofrer por algo tão mínimo?"

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  6. Dias ruins é exatamente isso,acho que seria capaz de bater em velinhos,e acredite bater em velinhos não é algo que eu faria rs,

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pode falar, eu não estou ouvindo