segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Geyse e os outros


Dou como certo que um dia a mãe de Geyse tenha lhe aconselhado: Faça uma faculdade e seja alguém na vida. Se não a mãe, o pai ou os avós. E Geyse acatou o conselho, por que é certo que desejava um futuro garantido, vaga no mercado de trabalho, reconhecimento, dinheiro. Não era, nesse ponto, diferente de qualquer um de nós nem das milhares de moças de família humilde que, incentivadas pela proliferação de universidades particulares, procuram se encaixar em cursos como administração, turismo e etc. Cito esses dois por que parecem ser os mais procurados e também por que podem, segundo o meu ponto de vista, representar os cursos que menos tem relação com a idéia fundadora da universidade: a idéia de um centro de propagação, difusão e construção de conhecimento teórico, prático e humanístico. Administração e Turismo são habilitações que colocam a faculdade num patamar mercadológico, transformando-a em uma escola preparatória para o mercado de trabalho. Trata-se de uma modificação válida, nem louvável nem execrável, pertinente com as novas realidades do mundo. E Geyse, com certeza, não perderia seu tempo e o dinheiro de seu trabalho fazendo filosofia ou história. Ela queria algo que lhe pudesse fornecer retorno financeiro associado à força ainda considerável que um diploma possui no imaginário popular.
Então Geyse foi para a universidade. E a Universidade fez dela alguém. Deu-lhe fama, dinheiro, reconhecimento, antes que ela sequer colasse grau.Sem ver, sem pensar, sem medir, tacitamente, a mídia, o povo e a própria Geyse reforçaram o que já está enraizado em nossa cultura e em nosso modo de ver o mundo: um vestido curto ainda vale mais que um diploma. As novas meninas que entrarão amanhã nas universidades particulares entenderão que é bom ter um diploma, ter um lugar no mercado de trabalho, mas que melhor é conseguir se sobressair pelo corpo e pela imagem. Geyse, na sua simplicidade, não se faz de rogada: quer é colocar silicone, posar nua na playboy, aparecer de biquíni na tv. Mostrar aquilo que o singelo vestidinho só insinuava. Esqueceu o curso de turismo e agora se diz ex-estudante. Ela não precisa mais de formação universitária, já é alguém na vida. Não precisa mais ser inteligente, ser estudada, ou pelo menos aparentar isso – pode ser só um corpo. Ganhará dinheiro, bastante dinheiro, com coxas, bundas e seios. E assim, curiosamente, voltamos a aqueles estudantes que, no começo de toda essa conversa, hostilizaram e humilharam a jovem nos corredores da Uniban. Os mesmos jovens que a tacharam de puta e que foram, por sua vez, tachados pela mídia e pelo povo de bárbaros, machistas, retrógrados, preconceituosos. A mesma mídia que mostrará Geyse de biquíni e o mesmo povo que comprará, tranqüilamente e sem peso de consciência, a playboy da moça nas bancas de revista. E Geyse, em sua inconsciência feliz, acaba provando que, no fundo, talvez os preconceitos, o machismo, a barbárie seja exatamente o que todos procuram.


4 comentários:

  1. Será que as pessoas sabem o que procuram? Geralmente, nem pensam nisso... vão só seguindo, em rebanho de preferência.

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  2. Gostaria de discordar, mas acho que você tem razão...e fico seriamente preocupado...

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  3. é um questionamento muito pontual... Será? tomara que não: é o que penso. mas por enquanto, tá sendo assim mesmo!
    Abraço
    penanegra.wordpress.com

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  4. Um ciclo triste de comodismo e inconsciência.

    Piadinha infame:
    O vestidinho cresceu e criou corpo! Ha!

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pode falar, eu não estou ouvindo