Jornalistas, etc.

1. Para facilitar as coisas, as pessoas começaram a se dividir em funções; você colhe, você caça, você cuida dos doentes, você diz o que está acontecendo. E então, para complicar as coisas, as funções começaram a dividir as pessoas; você colhe? Então você é agricultor. Você caça? Caçador. Você cuida dos doentes? Médico. Mas ainda gosto de imaginar que houve algum momento na curta história humana em que o fato de alguém ser caçador significava apenas que aquela pessoa caçava, e não que ela pertencia a um grupo sectário de indivíduos com um valor social específico e objetivos, gostos e problemas comuns e não compreensíveis para os demais.

2. Para complicar as coisas, o moleque precisava definir o que ia fazer na vida; você é bom em matemática? Faça engenharia. Você é bom em história? Faça direito. Você quer ganhar dinheiro? Faça medicina. Mas, para facilitar as coisas, aquilo que o moleque fizesse definiria quem ele era. Você faz engenharia? Então você é organizado e bem sucedido. Você faz direito? Então você vendeu sua alma ao diabo. Você faz medicina? Então você ganha muito dinheiro. Mas ainda gosto de imaginar que existam moleques que percebam que a profissão que eles escolheram não define quem eles são.

3. Tive uma professora que gostava de se apresentar como jornalista fulana. Talvez quisesse se assemelhar a aqueles que se apresentam como doutor sicrano, professor beltrano, etc. Eu não gosto muito. Entendo que facilitaria as coisas: jornalista José Eduardo... muito mais simples me definir assim,;jornalistas são determináveis, josés eduardos talvez não sejam. As pessoas olham meu cabelo, minha barba, meus óculos redondos e dizem: realmente, você tem cara de jornalista. E eu, internamente, retruco: sério? Achei que tinha cara de José Eduardo... mas não digo nada. não quero complicar as coisas.