Pessoas cansam

Não só os lugares mofam, nem só as cadeiras empenam, nem só as portas se trancam e as janelas emperram, e nem só o céu escurece. Não são só os prédios que desabam, nem só os carros que batem, nem só os relógios que se atrasam e nem mesmo só as camas se desarrumam. Não só os países guerreiam, nem só os muros dividem, não só as cartas se extraviam, nem só a bebida acaba. Não é só a chuva que encharca, não é só o sol que queima, nem é só o fogo que mata. Não é só a comida que estraga e, quando é hora, não só a boca seca, nem só as mãos tremem, nem só as pernas bambeiam – não são apenas os lápis que perdem a cabeça. Nem só os bolos poderiam ser maiores, pois nem sempre só o fermento aumenta, e não é só a cocaína que vicia, nem só o cigarro que fede. Não só os tapetes estão sujos, nem só os sapatos apertam, e nem sempre só o trabalho cansa. As pessoas, as pessoas também cansam.