quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ainda sobre música



Gostei muito dos comentários do post passado e, por isso, resolvi voltar ao tema da música. A ruiva me mostrou esse vídeo do Neil Young que poderia explicar sozinho tudo que eu tento dizer. A partir dele, e do dito pelo Leandro Torreal, trufasefrutas e pela Maila, teci as seguintes confabulações:

Provável que a discussão sobre música boa e ruim seja complexa e esbarre, por um lado, na patrulha ideológica tanto dos intelectuais quanto da cultura comum, e por outro, na própria definição de gosto pessoal, que me é muito cara. Como eu posso dizer para fulano que aquela balada sertaneja melosa não presta, se ela é capaz de fazê-lo se emocionar, se lembrar de bons ou maus momentos de sua vida, daquilo que importa para ele? Da mesma forma, como posso dizer que é boa, se sua musicalidade é pobre, se a letra é clichê e a melodia beira a pré-escola? Então,furto-me da discussão, pois a mim me parece tão mais sensato mensurar a música segundo um outro quesito: a sinceridade.

Eu não gosto de Neil Young, conheço muito pouco desse cantor, mas não pude deixar de me emocionar com o vídeo acima. A canção é muito simples, como são simples as canções dos Beatles, do Restart e do Jorge e Mateus. Qualquer pessoa que arranhe o sol, o ré e o mi no violão pode tocá-la. Mas em tudo, em cada detalhe, musical ou não, o que se desprende da cena é a sinceridade. E nisso talvez falhem os cantores de hoje, no esquecer-se que a música é, antes de tudo, uma experiência íntima, um voltar-se para si mesmo. Perdem-se na tentativa de criar espetáculo, de facilitar ao máximo o acesso do público ao prazer. Não se pensa que, quanto mais fácil o prazer, mais vulgar e passageiro ele se torna. Eu recordo de toda a parafernália tecnológica e circense que acompanha um show da Madonna e vejo esse rapaz feio e cabeludo, enfrentando sozinho o público, sem outra ajuda que não seja um violão, uma gaita e a sinceridade sem fim de sua música. Então penso, com um nó na garganta: o que nos falta mesmo é coragem.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente com relação ao elemento coragem, pois me parece que vc se refere à coragem de ser criativo, de fazer mesmo alguma coisa, de expor algo em que realmente se acredita. Afinal, enfrentar mata fechada só com fação e bússula e abrir caminho à base de músculo e convicção é algo que requer mesmo muita coragem (embora isso, desse jeito, pareça quase não acontecer - ao menos não tão dramaticamente). Por outro lado, percorrer trilhas já abertas (que em alguns casos são tão usadas que um dia decidem asfaltá-la) é coisa que não me parece pertencer ao domínio das artes. Do entretenimento, com certeza (não que por isso deixe de ter seu mérito), mas não das artes.
    Ou seja, artista tem que criar. Tem que ser corajoso.

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  2. Eu acho que os pontos são mesmo esses: sinceridade e sensorialidade.

    Complexidade não torna uma música melhor ou maior. Acho que nada no meu gosto musical é baseado no virtuosismo técnico de quem toca e não penso que isso torne meu gosto melhor ou pior do que o de ninguém. E aí vem a sensorialidade. Nós gostamos do que parece nos afetar, das coisas com as quais nos identificamos, do que parece fazer sentido pra nós. Por isso eu gosto de Weezer, outras pessoas vão gostar de AC/DC e outras vão querer ouvir João Gilberto (ou até tudo isso junto).

    Fora que, admitidamente, a gente conforme vai envelhecendo adora meter o pau no gosto de todo mundo que é mais novo.

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  3. Tirando a parte do Neil ser um rapaz feio (hunft') tudo o que você disse faz sentido, Zé.

    Tem músicas tão boas mas que se perdem num monte de fru-frus e ficam ruins. Aí, agora eu fiquei pensando que, putz, de fato é preciso muita coragem pra parar no simples e ir adiante com ele.

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  4. Alguem pensou que se talvez as crianças começarem a questionar e criticar e pensar sobre a musica que ouve e começar a ter noção de que a capricho vende as idéias que lhes convém e os produtos,as imagens e a falsa noção da vida perfeita que a disney passa em fim, começarem a ser sensatas em relação as coisas o mercado global congela.. '-'
    E o mundo acaba virando uma catástrofe tipo as formigas que se perdem da fila de outras formigas! D:
    Ok,acho que é bom eu me resumir antes que deixe tudo mais confuso ehem..

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pode falar, eu não estou ouvindo