segunda-feira, 28 de junho de 2010

Saudade do que poderia ter sido



Ela sente uma falta imensa da rua por onde não passou, por ser escura ou estar tarde. Ou por imensidão, como o oceano sente falta de quando era rio. E eu me pego pensando se ela saberia dançar como dança, ou criar como cria, caso escolhesse outras palavras ou caso se lhe sobrassem dois ou três bons dias. Ela se encanta com as flores que poderia ter recebido, ainda que as que recebeu fossem lindas. E não se arrepende, sequer se constipa, pela febre que sente ao esquecer da vida. Nas calhas, nos prédios, nas feiras, onde a vida chove, ela estende os braços e percebe – nunca poderia abraçar o orbe. A saudade dolorida não é pelas escolhas não feitas, mas pelo desaparecer daqueles sonhos que delas brotariam. Nem é arrependimento, por que o arrepender exige azedo e mofo. Talvez seja apenas nostalgia.

4 comentários:

  1. Você nunca é jovem demais ou feliz demais para estar nostálgico. Recém-nascidos sempre vão achar que a papinha de hoje é bem pior do que as de antigamente.

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  2. A saudade dolorida não é pelas escolhas não feitas, mas pelo desaparecer daqueles sonhos que delas brotariam. É de admirar o poder que palavras bem organizadas tem sobre nós, nossos pensamentos e sentimentos!

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  3. sim, são 06:35 e eu decidi ler seu blog antes de sair pro trabalho.Parabéns atrasado pelo aniversário do blog.

    Acho que me identifiquei de leve. rs Sou pura nostalgia e vivo sentindo falta de tudo o que ainda não vi.

    Como sempre, textos excelentes por aqui.

    beijo, zé.

    Aninha.
    http://mocasdiferentes.wordpress.com

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pode falar, eu não estou ouvindo