Um circo

Não me lembro de antes, no florear indeciso dessa vida, ter me deparado com um circo no meio do caminho. Por isso de meu susto, que me faz parar e sorrir como um incrédulo. Ali, entre minha casa e a locadora, num terreno baldio que antes fora cemitério de carros, haviam fincado estacas e subido uma lona colorida. Não muito colorida, nem muito extensa, uma lona humilde, rodeada de trailers e cordas. Depois ouvi do carro de som que havia chegado o circo pan-americano, luxuosamente instalado na Vila Monticelli. Seus principais destaques eram o globo da morte e o palhaço Tampinha. Gostava de passear por perto, com o mesmo olhar desconfiado de toda a vizinhança, metidos em chinelos e sacolas, para observar o pequeno circulo do circo, os trailers e seus habitantes, mulheres gordas ou mal-vestidas que estendiam roupas em varais e ralhavam com seus moleques. Ali, ou lá, um nordestinozinho de bermudas e Ray ban andava sem o que fazer, esperando o momento de se transmutar no palhaço Tampinha. Grande atração do Circo Pan-Americano, luxuosamente instalado no terreno baldio da Vila Monticelli.