quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um reencontro com a humildade


Futebol não é minha área. Mas aí vai um texto do victor que vale a pena ( tudo bem que eu pedi a ele que escrevesse algo sobre filosofia, cinema ou qualquer outra coisa, mas o que fazer?)


O dia 24 de novembro de 2010 ficará para sempre na memória dos esmeraldinos. Neste dia, nos reerguemos da lama para brilhar com orgulho no meio de gigantes. As lágrimas que o rebaixamento nos fez derramar transformaram-se num largo sorriso, na alegria que só sentem aqueles que venceram uma árdua batalha. Foi um dia também em que, mais uma vez, a velha humildade deu uma lição na sua irmã mais nova, a soberba.
A humildade sempre caminhou de mãos dadas com o Goiás, porque foi da mesma que nasceu nosso orgulho. A crescente disparidade do clube diante dos rivais goianos e o desenvolvimento financeiro que alcançou fizeram com que torcida e dirigentes se esquecessem desse fato. Porém, o destino trabalhou ironicamente ao nosso favor. No momento de maior tristeza, de maior humilhação no ano, tivemos também uma grande conquista.
Por isso penso que esse é o momento exato para fazermos uma viagem no tempo. Então, sem mais delongas, estamos no dia 11 de dezembro de 1965. É um sábado a tarde. Goiás e Riachuelo entram no estádio Olímpico para fazer a primeira de duas partidas que definirão quem permanecerá na primeira divisão do Campeonato Goiano. O esmeraldino tenta juntar os cacos de uma temporada desastrosa, na qual vultosos investimentos para buscar a primeira taça da história do clube haviam sido em vão. Com direito ao abandono do jogo por parte do técnico Tomazinho, os jogadores alviverdes respiram aliviados com o empate sem gols.
Agora estamos no dia 14 de dezembro do mesmo ano, uma terça-feira. Sebastião Macalé, jovem de apenas 17 anos das canchas esmeraldinas, já enfrenta a primeira fogueira da carreira. O jogo contra o Riachuelo decide mais do que a permanência na primeira divisão goiana. O Goiás joga também para fugir da extinção. Joga para manter vivo o sonho de Lino Barsi e da família Segurado.
É noite. Chove forte e venta muito no Olímpico. Aos 14 minutos, Marrom abre o placar para o Verde. Eurípedes aumenta em seguida. A queda da energia apaga os refletores, mas a luz naquela noite estava no coração dos esmeraldinos. Finada a paralisação, Roberto Bim, Silval e Marrom novamente fecham a goleada. Goiás 5 x 1 Riachuelo. O esmeraldino se salva no Torneio da Morte.
Agora vamos ao dia 2 de outubro de 1966. É um domingo ensolarado. Joel, Baltazar, Macalé, Japonês, Dias, Pacuzinho, Índio, Eurípedes, Sinval, Marrom e Paulinho entram em campo para enfrentar o Vila Nova. A partida vai decidir quem será o campeão goiano da temporada. No estádio, as camisas vermelhas predominam.
Sinval faz bela jogada no meio e passa a bola para Marrom. O atacante bate para o gol, a bola desvia na zaga e morre no fundo das redes. Urias Crescente apita o final do jogo. O Goiás vence o eterno rival por 4 a 2 e conquista o primeiro título de sua história. Vinte e três anos de lágrimas, dor e decepção passam como poeira ao vento, simplesmente evaporam diante do brilho daquela taça.
E aquele 24 de novembro de 2010? Pacaembu lotado, 38 mil vozes gritando contra. São jogados 36:41 do segundo tempo. Otacílio domina bola na meia esquerda, espera a passagem de Marcão e toca no zagueiro. Ele levanta a bola na área, Rafael moura escora de cabeça e Ernando (zagueiro da base, como Macalé) flutua no ar para arrematá-la ao fundo das redes. E lá ela ficou. Talvez fique lá para sempre.
Nossa história não é a da soberba. Nossa história é a da humildade. Como bem disse Albert Camus, o futebol nos ensina que se deve aprender a ganhar sem se sentir deus, e também perder sem se sentir um lixo. Palavras que parecem ter sido ouvidas pelo sensato Artur Neto. Em entrevista coletiva, ele reconheceu que o Palmeiras era o favorito da partida, mas que nunca deixou de acreditar na vitória e trabalhou no sentido de passar isso para os jogadores.
Essa velha senhora sempre esteve com o Goiás, observando e aconselhando quando preciso. Ela não chegou ao disparate vestir a camisa, pois não nos pertence apenas, mas já ganhou alguns jogos pra nós sim. E nesse reencontro com a história pudemos conversar novamente. Como disse um amigo querido, tudo que é finito é ilusório. Mas nossa paixão, meus caros esmeraldinos, não tem hora marcada para acabar.
Victor Hugo de Carvalho Caldas

6 comentários:

  1. Zé, tem um texto sobre futebol no SEU blog.

    [achei bom, enfatizar. hahaha]

    ResponderExcluir
  2. "A humildade sempre andou de mãos dados com o Goiás." Hummm...

    ResponderExcluir
  3. Eu não sou fã do Goiás, mas o anônimo claramente não terminou de ler texto.

    ResponderExcluir
  4. Belo texto, adicionando testosterona na página inicial do blog, gostei.

    E saudade dos tempos em que dava pra ver um cara chamado "Pacuzinho" em campo...

    ResponderExcluir
  5. O Zé conseguiu me fazer um texto sobre futebol... confesso que enrolei pra começar e até pensei em desistir na metade, por causa do demonstrado amor a causa do autor.
    Felizmente, terminei o texto achando muito bom e vendo o trunfo de alguém que soube fazer uma narração de jogo sem soar uma... uma perda de tempo. Os amantes da bola que me perdoem, eu até gosto um pouco, mas é assim que muitas vezes eu entendo tudo isso.

    Ps.kkkkk To dando trela de rir com a fala do João!

    ResponderExcluir

pode falar, eu não estou ouvindo