sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não sei comemorar



Não é matéria que ensinam no colégio, mas consta no currículo das fugas de aula, das festas escondidas, do truco e das bebedeiras. Azar o meu de ter sido moleque de vidro - nada do que eu vivi me ensinou a comemorar. Sou do tipo chato que fica quieto diante das próprias conquistas, como alguém que comete um crime e não corre, como o menino que guarda o brinquedo e não abre. Gritam por mim quando ganho, abraçam-me emocionados quando me emociono. Não fico rouco, não tenho insônia, não rio alto e nunca gritei gol a todo pulmão, no meio do bar, colhendo amigos nos braços. Gostaria de ter o sangue menos ralo e frio, gostaria de poder me soltar, de não ser tão cinza, tão neutro. Mas não consigo. Olho como se desconsiderasse, sorrio fino como se permitisse, sofro por dentro como se berrasse, e não dou um pio. Mas não se engane, menina, não se engane! Eu estou vivo. Estou muito vivo. E sozinho no quarto, longe das vistas, por um segundo apenas, danço minha dança solitária, que é mistura de soluço e sorriso. A minha alegria é só um suspiro. De alívio.

9 comentários:

  1. E eu sou o som da sua festa. Nada é tão em vão. =D

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  2. Fruto de sua orientação sexual.

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  3. Muito bom, mas quase chorei. Quando chegou a parte da dança solitária, imaginei logo um gordinho dançando no quarto, sozinho, escondido, aqueles passos fenomenais que nunca serão vistos. Enfim, falando em dancinhas fenomenais, assista:
    http://www.youtube.com/watch?v=kr7djGY1fhA

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  4. Você sabe que seu lirismo tá surtindo efeito quando seus amigos começam a questionar sua opção sexual assim, na cara, na frente da sua namorada e da sua família.

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  5. Victor Hugo de Carvalho Caldas1 de março de 2011 às 19:33

    Insisto, pq ouvidos mudos?

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  6. Seu texto é ótimo! Tenho a mesma sensação, mas nunca soube explicar tão bem! Parabéns!

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pode falar, eu não estou ouvindo