terça-feira, 19 de abril de 2011

Sob nova direção




Já não estava conseguindo me afeiçoar ao blog como antes, então resolvi fazer alterações. Pode ser apenas uma última tentativa de sobrevida, antes de me decidir definitivamente a fechar as portas. Mas espero que não. Espero mesmo que não. Mulheres e países imperialistas têm esse dom de se desfazer facilmente daquilo que já não atende a suas necessidades. Eu nem tanto; carrego armários entupidos de coisas das quais não consigo me livrar, por apego, por dó ou piedade cristã mal disfarçada. Guardo aqueles poemas da oitava série, não porque faça deles algum uso, mas porque sinto como se prestasse um favor, como se eles, mais que eu, precisassem disso.
A mudança mais visível, claro, é estética. Tive que me desfazer das letras cirílicas e das manchas. Eu gostava delas, de fato. Mas a pressão foi muita. Talvez o visual “arquivo soviético desenterrado da Sibéria contendo documentos antigos” não faça tanto sucesso assim. Tive também que dar fim ao peixe, como vocês todos perceberam. Foi uma questão de demarcação territorial – ele estava roubando meus amigos, destruindo minha fama e, antes que fugisse com minha garota, dei-lhe o fim digno a todo peixe solitário: a descarga. Agora me livro dos comentários sobre ele e esperarei pacientemente até que acabem todos os comentários sobre a falta dele. No fundo, penso que foi uma vitória da forma sobre o conteúdo: desgastou-me um pouco o fato de todo mundo comentar o blog e ninguém se lembrar de comentar os textos.
A outra mudança, a verdadeira, é de objetivo. Não me interesso mais pelas coisas que antes me interessavam; e minhas produções vêm acompanhando esse fluxo. Só o blog permanecia quieto. Mantinha-se muito parecido essencialmente, com sua função de descarrego e auto-elogio, de massagem de ego e tiro ao alvo às escuras. Por isso estou reduzindo sua importância, fechando algumas janelas, subindo uns muros, retirando-o do fogo. É algo diferente do que apenas uma mudança de mobília – é uma mudança de função. Acabo de transformar esse banheiro público numa cozinha de hotel.

6 comentários:

  1. mas aquele layout era incrível e o peixe nunca roubou a atenção dos textos. era só que, às vezes, era mais fácil comentar sobre ele [mas, entendi o lance da demarcação].

    bom... mudanças costumam ser boas... né?!

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  2. Eu admito que simpatizava com o visual antigo, mas sempre apóio posturas mais cleans privilegiando conteúdo à forma. Mas sim, só digo isso porque sou feio e me acho espertinho.

    No mais, vou primeiro esperar os textos da nova leva para depois opinar de forma mais contundente.

    Adeus, peixe.

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  3. Acho que nao e uma questao de se desfazer facilmente de certas coisa...algumas pessoas apenas entedem que tudo tem um tempo certo, mesmo o tempo de acabar ou o tempo de nao ter mais fim. Leio o blog sempre que posso (perdi a fase arquivo sovietico) e seria uma pena se acabasse.
    Nunca pensei na imagem do blog como "banheiro publico", para mim era como aquele canto da sala, onde as pessoas conversam sobre diversos assuntos e os comentarios do joao sao, sem duvida,os melhores!
    Roteiristas, escritores, autores e mulheres nao se desfazem, decidem os finais de cada historia.

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  4. Adeus peixe e bom, eu era partidária do fim do layout, gostei do visual novo - limpo e verdinho. E cadê os textos da nova fase? Fiquei curiosa.

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  5. Olá. Parabéns pela escrita, muito certeira. No texto sobre Obama e mito, concordo e discordo.

    Abraço,
    Minuzzi

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pode falar, eu não estou ouvindo