segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Michel Teló e os índios assustados




Recentemente, em conversa com um conhecido irlandês, eis que me surge o tema Michel Teló.  Meu amigo gringo conhecia o cara e achava a música muito boa. Eu é que eu não conhecia, mas dois minutos de youtube me colocaram a par do fenômeno. A primeira reação que tive foi de censura, e despejei sobre o pobre irlandês uma tonelada de observações e definições a respeito da verdadeira música brasileira. Mas eis que algo curioso aconteceu: o gringo não entendeu patavina das minhas críticas. Ele não pegou porque diabos eu considerava aquela música tão ruim. E isso, meus amigos, me fez pensar bastante.

Na verdade, na verdade mesmo, a qualidade musical nem sempre é o que usamos para definir se algo é bom ou ruim. A maior parte das pessoas, eu incluso, não tem tanto conhecimento musical assim para discursar sobre boa ou péssima música. Isso não é impede, claro, que afirmemos aos quatro ventos o que é a Verdadeira Música Brasileira e o que não é, como se doutos no assunto. O que parece acontecer é que nos pautamos sempre pelo que o nosso contexto cultural nos apresenta. De repente, eu percebi que falava mal não da música do Michel Teló em si, mas das pessoas que a escutavam, das festas regadas a cerveja e gordura dos meus vizinhos chatos, dos caras que pegavam mais garotas que eu porque botavam um chapéu na cabeça e sabiam tocar berrante, etc. etc.

Mas o irlandês não viveu nada disso, não faz parte desse contexto. Ele simplesmente ouvia a canção como uma música estrangeira divertida. Talvez a entendesse como algo exótico, que as pessoas de seu país achavam interessante. Sequer compreendia a língua. Ele a escutava e não reconhecia nela diferenças de classe social, afirmação de identidades, excesso de hormônio ou falta de miolos, como eu inconscientemente fazia.  Ele também não tinha conhecimento suficiente para saber se era uma boa ou má obra musical. Mas para ele era boa,  enquanto para mim é era ruim. E isso era o que menos importava.

As vezes é bom pensar no fato de que nós medimos o mundo a partir da nossa casa. As vezes é bom recordar da história daqueles índios que, ao visitarem o antropólogo em seu escritório, ficaram aterrorizados porque ele havia colocado como enfeite, acima de sua lareira, ao lado da foto dos filhos,  a  terrível máscara sagrada do Deus da Morte.  

5 comentários:

  1. Pois é, a verdadeira música brasileira. Na faculdade participei de milhões de discussões sem conclusão alguma a esse respeito. Mas afinal, o que diabos caracteriza uma música como VERDADEIRA (ó meu deus, sinos tocam e trombetas se erguem à mera menção desses termos) MÚSICA BRASILEIRA? É o tempero e o molejo? É a brasilidade imaculada? É o hibridismo tão lindo? Clap, clap, clap! A MÚSICA BRASILEIRA! "Sim, é a melhor do mundo! Porque os nossos ritmos e nossas harmonias são os mais elaborados, prova da nossa inteligência e complexidade". Sei, sei... e alguém aí já ouviu mesmo música indiana ou búlgara ou árabe? Porque, se for pra falar de música intelectualmente complexa... E é tão fácil de portar como sensível e intelectual conhecedor dessas coisas falando de Pixinguinha e Tom Jobim, de Chico Buarque e João Gilberto (é claro, esses caras ganharam status de ícones intocáveis da beleza e do bom gosto musical, e ninguém pode falar sem ser olhado como plebeu ignorante que esses dois últimos, por exemplo, cantam mal pra caralho).
    Em geral, acho mesmo é que a maioria se limita a repetir os discursos daqueles supostamente conhecedores das boas coisas. Qualquer um pode falar bem de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti ou qualquer artista que tenha tropeçado e caído dentro do grupo da bossa nova e da tropicália, e colecionar olhares de admiração por parte de todos os enólogos amadores ao redor. E nem é preciso tê-los ouvido realmente. Falar que são bons, que naquele tempo é que havia músicos de verdade, é o suficiente. É consensual e não é preciso articular ou argumentar nada quando se concorda com a opinião dominante.

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  2. Acredito num patamar de comparação comum, reconheço tal qual Baudelaire o belo e o feio como algo circunstancial. No entanto acredito que seu critério de insatisfação apesar de "subconsciente" nada Mais do que seu IDE separando ARTE de lixo consumista, algo feito para ser Arte pode vir a ser algo popular(fato), algo feito para ser popular pode vir a ser ARTE?

    Cabe ao artista a defesa de sua obra, uma vez que o termo mais do que esmaecido por teóricos, ARTE resumidamente serviria para denominar, aquilo que acrescenta reflexão, estética, poética, musical, cultural etc etc...

    Por conta dessa falta de sustância conceitual, causou repudio naqueles que apesar de pouco conhecimento musical ainda contam com alta sensibilidade artística...

    Resumindo, a Música é boa para um empresário já que o critério de avaliação era chegar a um nível melódico e literário obvio e popular a fim de criar um produto com um percentual alto de eficácia, sucesso e dinheiro.

    A música é boa para um "popular"(de qualquer parte do mundo)se o critério de avaliação for, um ritmo bacaninha para dançar.


    A música é ruim para um apreciador de arte(de qualquer parte do mundo) já que ela é só mais um produto descartável comercial, feito sem nenhuma proposta artística reflexiva, ou poética, musical, um batuque improvisado na carteira da facu, que resolveu virar sucesso...

    Quem já viveu a macarena sabe o quanto a população mundial é frágil.

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  3. Essa conversa com o Irlandes existiu mesmo ?
    A observação que você fez é interessante, independente disso, mas fiquei curioso.

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  4. Ah, é uma merda de música mesmo.
    Depois eu escrevo a justificativa.

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  5. Independente da nacionalidade ou contexto: ''ai se eu te pego, ai se eu te pego'' não é nada que podemos chamar de elegante!

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pode falar, eu não estou ouvindo