terça-feira, 6 de março de 2012

Perder a ciranda



O fim do mundo é um dos fetiches favoritos do nosso tempo, ao que nos diga aquele bafafá todo de 2012 e etc. Mas, preocupados demais em criar frases publicitárias inteligentes e filmes de desastre natural, acabamos por não perceber um aspecto interessante da mitologia mexicana antiga:

Os astecas (e imagino que também os maias) acreditavam que, de tempos em tempos, o mundo acabava. Ou seja, não era um fim definitivo de todas as coisas, mas o culminar de uma etapa e o início de outra diferente. 

Também os hindus entendem que cada era do universo corresponde a um dia na vida de Brahma, o deus da criação. Quando ele dormir, o universo desaparece, para reaparecer novo depois, quando ele acordar.

Mesmo os vikings entendiam que, depois do Ragnarok (o fim do mundo nórdico), quando deuses e gigantes lutariam até a morte, novos deuses e novos seres surgiriam com o amanhecer.

Há ainda outra mitologia que nos ensina que todo fim precede um recomeço: a ciência. Análises geológicas e arqueológicas mostram que a vida na Terra sofreu vários grandes traumas – meteoros, eras glaciais, chuva de enxofre etc.  -  e, depois, ressuscitou de modos distintos.

Mas, apesar disso tudo, em algum momento nós perdemos a noção do ciclo, e passamos a achar que a nossa estrada é reta, que nossos passos nos levam só para frente ou para trás. Perdemos a ciranda, a simples e cabal convicção de que estamos dançando e não caminhando. E nos levamos tão a sério que achamos que o nosso fim seria o fim de tudo. Curiosos tempos são os nossos; tanto orgulho por termos descoberto que a  Terra é redonda, e ainda acreditamos que a vida é plana. 

Um comentário:

  1. Muito bom, hein, Zé? (e sempre me impressiona essa vibração "bug do milênio" que o pessoal quer manter viva a todo custo, seja em 2000, em 2012 ou na próxima data shuffle que arranjarem)

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pode falar, eu não estou ouvindo