quinta-feira, 12 de abril de 2012

Descoberta da morte alheia



Ao me aproximar da casa, vindo pelo quintal abandonado, era possível sentir que lá dentro alguém morria. Não de morte fulminante, não de morte anunciada, talvez de morte pretendida, por anos planejada como uma viagem de férias. Na varanda havia um entulho de sombras e roupas rasgadas, um amontoado de pedaços de coisas velhas, um relógio de pulso, sapatos pretos, uma vassoura. Eu subi as escadas e bati na porta. Pelo vidro escuro da janela, supus que alguém me via. Mas não, a casa  estava vazia. Então fitei impacientemente as tralhas esquecidas do lado de fora; um vestido antigo, boneca de pano, álbuns de fotografia, uma xícara de café, olhos de vidro, um velho manequim de pernas tortas. A tarde sorriu de sol e eu recuei assustado: aquele entulho no canto da sacada era uma pessoa morta. 

Um comentário:

pode falar, eu não estou ouvindo