Teorema Labiríntico da Ignorância

Tolice é chamar um homem de ignorante. Redundância pura. Não há nada que sejamos tanto quanto ignorantes; e a quantidade de assuntos que ignoramos é tão absurdamente maior do que a dos que sabemos, tão maravilhosamente incontável, que o abismo de conhecimento  entre um sábio e um idiota se torna ínfimo. Somos todos ignorantes em mesma medida, na mesma escala. O mais pobre e inculto dos camponeses da China tem o mesmo direito de me chamar de ignorante que eu a ele, pelo simples fato de que não sei uma palavra em chinês, ou nunca seria capaz de ordenhar uma cabra. A ignorância é aquilo que nos define desde o princípio, é o que passamos a ser a partir do momento em que ganhamos consciência. Ou até antes do advento da consciência, pois sem a consciência somos ignorantes puros. Ignorar é a ação que nos acompanhará por toda a existência. Na barriga da mãe e antes dela, ignoramos. No leito de morte ou depois dele, ignoramos. Ignoramos os primeiros passos antes de dá-los e a primeira palavra antes de falá-la e, depois de aprender a andar e a falar, ignoramos o caminho e a verdade. Se aprendo uma ciência que antes ignorava, esse conhecimento muda o mundo de modo a surgirem mil outras coisas ignoradas. E já diria o grego: quanto mais sei, mais sei que nada sei. E os preguiçosos diriam: então, se saber é ignorar, para que saber? Mas tanto os gregos quanto os preguiçosos não passam de ignorantes. A vida é um pequeno ponto de conhecimento rodeado de ignorância por todos os lados. Quem ignora essa verdade, é um grande ignorante. Quem não ignora, também.