terça-feira, 27 de março de 2012

MMA né?



Sem muito aviso, a luta livre se tornou assunto hegemônico na mídia. Assim, aparentemente do nada, lutadores ocuparam capas de revista, horários de TV aberta, propagandas de carro e de pasta dental, filmes e mesas de debate esportivo. E, mais que depressa, o tema se infiltrou nos assuntos cotidianos, nas conversas de boteco e nas discussões dos intervalos de trabalho.
Não tenho  nenhuma opinião sobre MMA ou Anderson Silva ou qualquer coisa do tipo.O que realmente me intriga é a naturalidade com que um tema antes incomum passa a ser aceito pelas pessoas como se fosse muito familiar.  De repente, todo mundo fala de luta, todo mundo assiste e gosta ou desgosta, todo mundo exalta a tradição brasileira em luta ou reclama da violência exacerbada, mas quase ninguém matuta sobre o fato de que, há menos de dois anos atrás, isso sequer era pauta, sequer era assunto. Ninguém se predispõe a pensar em como nomes, regras, jargões, heróis e eventos antes obscuros de repente são comezinhos, são rotineiros, como se nunca houvesse sido diferente. 
No livro 1984, de Orwell, o país do personagem principal vivia em guerra com um adversário terrível.  As pessoas tinham momentos específicos para declarar seu ódio ao inimigo, e faziam-no numa orgia coletiva e catártica. O curioso é que, de acordo com interesses obscuros, as vezes o inimigo mudava. Mais que depressa, os jornais e a TV simplesmente passavam a falar o nome do outro inimigo, e apagavam o nome antigo. As pessoas passavam a odiar aquele outro inimigo com a mesma veemência com que odiavam o anterior, como se tivesse sido sempre ele o inimigo número um. Orwell imaginou isso em uma ditadura total e sufocante, de padrões fascistas. O que ele faria se soubesse que nem era preciso tanto?

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