sábado, 20 de setembro de 2008

dança da chuva


Agora pode chover. Deixa de sol, e verão que ainda há um bom vazio para dormir. Agora que pode chover. Deixa de sol e verão. Dessa coisa toda iluminada, que a alma da gente apaixona mas cansa, por que paixão também é dolorir, paixão é pior que a cruz. Verão que há todo um dicionário de silêncios, das mais extintas raças, das mais retintas estirpes. Numa janela de casa, numa avenida, no carro, em todos o cantos. Paira sobre nós o anjo doce da possibilidade. É que você sabe, todo anjo é um homem nas entrelinhas. E como um desses anjos, eu fiquei segurando o sol. Até que ficassem secos meus dedos e secassem meus olhos. Até que toda a terra se iluminasse, por onde andassem meus passos. Dessa coisa toda alumiada, que a alma da gente alvorece mas estanca, por que tentar também é ferir, tentar é pior que amar. Por isso meu ofício acabou e eu desatei do sol. Descavalguei, Desmenti, virei um Desdeus. Com desdém, para poder escurecer meus dias. Sentei na calçada com as mãos nos joelhos. Sentei na calçada da estrada mais longa e disse: Deixa de sol e verão. Agora pode chover.

Um comentário:

  1. Calor é bom, mas cansa, as vezes ficar só na chuva é mais confortável

    Bjo Zé
    escreve mais, vc larga o blog e some

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pode falar, eu não estou ouvindo