terça-feira, 2 de dezembro de 2008

andando comigo

Mas, por enquanto, por hoje e pelos dias que hão de vir, quero mesmo é andar comigo, saber de mim. Há muito escuro em meus sentidos, litros e litros de não-saber, escorrendo aos poucos pelos meus olhos, como se fogo, como se neve, como se branco antes de escurecer. Preciso, por hora, sentar na parte alta das previsões e sorrir – ao fundo a cidade ainda acorda. Gosto do idioma do vento, da canção das ruas, e a chuva me acompanha, com seu passo lento e plural. Por todos os dias me recordarei de seu gesto, e isso significa apreço. Significa que há restos de seu sorriso no meu, e um pouco de sua presença na minha. Por onde eu for, andando como tenho andado, levo notícias suas – seja por minhas costas arqueadas, seja por minha voz macia. Quero voltar a cantar, mas ainda não tenho razão. Por enquanto, por hoje e pelos dias que hão de vir, o silêncio continua a ser o meu refrão.

2 comentários:

  1. zé, eu tenho até dificuldade pra comentar esse texto... de tão lindo e profundo que ele é...

    Bem que eu queria, saber de mim, andar comigo, tendo o silêncio como refrão, falando o idioma do vento e acompanhada pela chuva. Porém, ainda não consigo. Quero o idioma da multidão, o brilho do sol queimando meu rosto, cantando, pra todo mundo ouvir. O silêncio como refrão apenas do sono, fora isso, quero desde um burburinho manso, até o batidão da balada... hahaha

    ai zé, me ensina a escrever assim?

    =***

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  2. Uma tentativa de descrição:

    O texto deixa um silêncio na gente; bate lá dentro e se agarra numas partes escondidas do ser. aí vem um suspiro grande. tanto de angústia como de prazer.

    Ah, esquece. 'Indescritível' define melhor!

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pode falar, eu não estou ouvindo