segunda-feira, 23 de março de 2009

Manual prático de sobrevivência do desinteressado por futebol


Meu pai, quando mais novo, jogava futebol com os amigos aos fins de semana. E sempre me levava junto. Se eu fosse um chato mal comido, poderia dizer que era uma tentativa psico-sociológica de inculcar em uma pobre criança inocente os valores machistas e reacionários de sua geração, realizada por um pai coronel, católico e que usava suspensórios. Bom, já que meu pai não é católico nem coronel e nunca foi visto de suspensórios, e já que eu não sou chato ( talvez mal comido),acho que ele estava só tentando ser paternalmente legal.
O diabo é que eu não dava a mínima pro tal do futebol. Os filhos dos amigos dele, aqueles normaizinhos, ficavam todos alvoroçados e eram paternalmente explorados como gandulas ou carregadores de água, o que para eles era o ó do borogodó. Mas eu não. Eu ficava zanzando ao redor do campo, descobrindo formiga embaixo de pedra e inventando sociedades alternativas nas quais o futebol era apenas uma forma de punição realizada nas prisões, algo entre o enforcamento e a sodomia. Em resumo: eu nunca tive o mínimo tato pra bola.

Quando se cresce carregando essa anomalia cultural que é não gostar de futebol, percebemos que é preciso seguir algumas regras para sobreviver. Do contrário, acabamos excluídos do circulo social, banidos dos bares, vítimas de olhares tortos na rua. Pontuo aqui algumas dicas imprescindíveis do Manual Prático de Sobrevivência do Desinteressados por futebol:

Não gostar de futebol pode ser um trunfo na conquista de garotas. Já ouvi meninas dizendo que essa era inclusive uma virtude mais sexy que ter um carro: afinal, de que adiantaria para elas eu ter um carro bom se aos fins de semana eu o encho de amigos bêbados e vestidos iguaizinhos para ir pro estádio? Porém, essa afirmação é falsa. Você precisa gostar de futebol se quiser relacionamentos duradouros. Por que a tal menina provavelmente tem um pai, um irmão e, com certeza, tem aqueles tios churrasqueiros que vão te perguntar: E o Vila hein? Nada pior que o olhar torto do pai da sua provável namorada quando você diz:
- Ah, eu não torço para time nenhum. Mas me amarro em basquete...
- Basquete hein? Jornalismo né? ( olhar do tipo: minha filha só arranja viado)

Preste atenção no vestuário em quartas e domingos. Muita atenção. Uma vez saí todo serelepe no domingo com minha camisa vermelha e minha bermuda escura e fui, inocentemente, para o ponto de ônibus. No caminho, passei por uma turma super saudável e estudiosa de torcedores do Goiás que iam para o Goiás e Atlético no Serra Dourada. Eles fizeram questão de mostrar toda a educação que a querida mãe deles forneceu. Por sorte um deles me conhecia da vizinhança, então eu tive que me contentar só com os xingamentos. Ou seja, adicione aí um adendo: preste atenção no vestuário e decore a cor dos uniformes pelo menos dos times principais.

Memorize as expressões básicas das conversas de futebol. Isso é útil: por que, pra quem vê de fora como eu, conversa de futebol tem a desenvoltura intelectual de um espirro. Você só precisa decorar falas prontas como:

- E o Vila hein?
- E o Ronaldinho?
- Rapaz, o (acrescente aqui o nome de um jogador que você tenha lido no Daqui) jogou muito hein? Putaqueopariu!
- Rapaz, eu mataria aquele Galvão Bueno...
- Quem é o líder da série A? E da Libertadores? ( e diante da resposta, faça uma cara de entendedor profundo do assunto e ria com alguma ironia.

4. Descubra o time do seu chefe. Ok, isso dispensa explicações. E não faça brincadeiras quando o time dele perder. Mas se você puder descobrir o time do filho dele, faça todas as brincadeiras possíveis quando ele perder.

8 comentários:

  1. tá, esse texto ficou longo e gay, eu sei.

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  2. hahah não há nada demais em um homem não gostar de futebol. Desde que ele não pratique tênis, esgrima ou qualquer outro esporte da categoria dos esportes "muito sofisticados", não tem problema algum.


    Também vejo uma outra vantagem muito boa. Nada de campeonatos, garantia de encontros sábado à tarde e quarta à noite e economia de uns 200 reais com camisas de time em datas especiais!

    (obs): esse texto está muito longo e...ah muito longo!

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  3. O texto ficou legal... Mas acho que a coisa vai um pouco mais além do que o autor tentou passar. Eu defendo a tese de que um bom escritor deve conhecer a fundo sobre o tema da sua obra. Por isso eu nunca escrevo à respeito do homosexualismo masculino... rsss
    Desde já faço o convite para meu nobre ídolo, para me acompanhar ao estádio no próximo classico, local onde o mesmo terá elementos suficientes para preencher as lacunas desta matéria.

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  4. Sabe que vc é até engraçadinho?
    Texto bem legal, viadinho!
    Comenta no meu blog, vc tá tão famoso.

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  5. Pense pelo lado bom: para a sua filha, vai ser realmente uma coisa boa os homens que não gostarem de futebol =)

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  6. Huhauhauhauhuha!!!
    Li e morri de rir. E eu amo o fato do meu namorado não ser um viciado em futebol. Apesar dele sempre me fazer assistir um jogos gringos de vez em nunca. Uma dádiva de Deus.

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  7. esse texto ficou ótimo. adorei.

    a mesma estranhez ocorre quando é a garota que é apreciadora do tal futebol. aí todo mundo se limita a fazer colocaçõezinahs impertinentes só pra encher a paciência. ;P

    *bando de chatos*

    :**

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  8. Deixa eu ver se entendi...Você não gosta mesmo de futebol?
    (estou brincando...mas é sério? não gosta? ok, brincando de novo...)

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pode falar, eu não estou ouvindo