quarta-feira, 22 de julho de 2009

Post sobre Jazz que virou artigo


Contrariando todas as regras para posts de sucesso, escrevi esse negócio aí que estão grande demais, bagunçado demais e chato demais. Corajosos dos que lerem até o fim. E dos que não, eu entendo, também não li tudo depois que terminei. Era pra ser só uma justificativa de por que eu não gosto de jazz nem de bossa nova.


Jazz. Eis o estilo musical que nunca me disse nada. A despeito de tudo que falam sobre ele, e mesmo considerando sua qualidade e exigência ou, pelo menos, sua importância, o Jazz passa despercebido por mim. Quando escuto, costumo estranhar. E digo que não houve um dia sequer que sentei num sofá, peguei um cd de jazz e, por livre e espontânea vontade disse: hoje estou com tesão para ouvir jazz. É como a bossa nova. Sei que é bom, até me divirto com uma música ou outra, mas sou quase sempre um ouvinte passivo. Escuto apenas se outras pessoas estão escutando.


Eu particularmente acho Jazz uma coisa idiota, embora reconheça sua técnica apurada e tal. Soa como um elogio ao egocentrismo e à incapacidade de trabalho em grupo. Enquanto o piano está reclamando da vizinha, a bateria martela um prego no dedo e o baixo grunhi sobre as próximas eleições. Além de utilizar o saxofone para fins criminosos, esse que é um dos instrumentos mais cafetões já inventados. Simplesmente não encaixa nos meus ouvidos. Mas é uma questão de gosto, de pele. E aí reside a maior problemática das tentativas de valorar o mundo e o que está nele. Ainda que existam regras, padrões, medidas e etc, no fim das contas, você gosta de algo por que gosta, por causa da química que surge. Dá para confessar que música sertaneja é pobre, repetitiva, mercadológica e blá blá blá. Mas, meu amigo, se seus pais ouviam quando você era criança, se você, no fundo acha o máximo aquela pose de corno ressentido e se seu sonho é ter uma caminhonete bem grande e muitas vacas para botar nela, então não adianta entrar em teoria nenhuma. Gosto é gosto. No frigir dos ovos, a gente acaba defendendo com mais veemência aquilo que gostamos e puxando a linha do Bom/Ruim mais para o nosso lado. Certamente nosso gosto reflete o grau de refinamento intelectual, de esforço de estudo, de cultura e etc, mas só em certos momentos. Há mesmo determinadas preferências que exigem maior esforço e que, logicamente, geram uma afinidade diferente. O prazer que se sente ao se encher de pipoca vendo o filme do Harry Potter (ótimo, por sinal) não é o mesmo de se assistir sozinho em casa uma película do Bergman. São experiências diferentes, situações diferentes e os dois filmes possuem objetivos distintos. O que acontece, ao meu ver, é que as pessoas que só assistem Harry Potter raramente têm paciência ou condição de assistir o Bergman (Só exemplos, só exemplos). Enquanto isso, do outro lado, a pessoa que assiste o Bergman se enche de limitações morais e justificativas intelectuais para não assistir o Harry Potter. Ambos se privam de experiências que poderiam ser muito ricas. Estenda o raciocínio para música, literatura e etc e veremos como, muitas vezes, o gosto próprio e diferenciado é relevado em nome de certas regras sociais que vão conferir posicionamento pictórico a um ou a outro.Isso sem citar aqueles que vêem a tudo, gostam de tudo, querem tudo. Esses são ainda piores por que não têm gosto pessoal e apenas seguem à deriva.

Nosso momento atual é pródigo desse último exemplo. Há uma certa liberalidade na acepção de todo e qualquer tipo de “cultura” como boa e válida. As pessoas se dizem ecléticas mas, na verdade, penso que nunca foram tão pouco ecléticas. Isso por que o ecletismo significa, em origem, a tendência de não se apegar à nenhuma marca ou ideologia e escolher, dentre todas as possibilidades, aquelas que mais condizem com a própria razão ou gosto. Ou seja, não significa “ouvir todos os tipos de música”, mas sim “ouvir aqueles tipos de música que realmente te agradam, não importando quais tipos são”. Não nego que haja muita gente que faça isso, mas o mais perceptível aí fora, se falamos de música, é o fato de que os “ ecléticos” escutam tudo aquilo que lhes é apresentado, sem distinção. Ao mesmo tempo, não procuram por própria conta seu gosto, contentando-se em definir como “tudo” aquilo que está mais evidente nos meios de comunicação ou na moda. São pessoas que escutam sertanejo nos bares, axé nas festas, pop rock no carro, house na boate e que imaginam, por isso, escutar de tudo. Não se preocupam em checar que esse tudo a que escutam não é senão a mínima parte de um conjunto de possibilidades que não foram escolhidas por eles. Aproveitando o embalo retórico e o fato de meu blog andar meio jogado às moscas, vou encher mais um pouco a lingüiça: Há um outro aspecto que anula o suposto ecletismo dos dias de hoje. Trata-se da motivação e do resultado dos elementos culturais. Os elementos artísticos podem ser classificados de diversas maneiras e uma das mais interessantes diz respeito a qual o motivo que os levou a ser criados e quais seus efeitos esperados. Como assim? Ora, se uma pessoa fala que é eclética por assistir filmes de ação, de comédia, de drama e etc., ela se esquece de pensar que, no fundo, todos esses estilos de filme atendem a um mesmo objetivo e foram criados por um mesmo motivo. Assim, surge a concepção firme e distorcida de que a cultura serve apenas para entreter. Então se tal música ou tal filme não te entretem, não te gera prazer ou fuga da realidade, quer dizer que não são bons e você não gosta deles. Como já exemplificado ali encima, o que se obtem assistindo o Harry Potter e o Persona não são mesmas experiências: tratam-se de obras com objetivos diferentes e que possibilitam a captação de elementos distintos. Um deles possui a nobre e justa incumbência de divertir, enquanto o outro possibilita uma experiência estética desconfortável e convida ao pensamento. São duas situações válidas e necessárias e são, em sua totalidade, duas funções e possibilidades da arte. A arte e a cultura não são úteis apenas para entretenimento, senão para convidar a uma série de vivências e de compreensões. O que eu vejo por aí, com algum desespero confesso, é que essa concepção anda meio esquecida. Os ecléticos assim se consideram por utilizar todas as variações de um mesmo tema: escutam todos as vertentes da música de entretenimento, mas passam longe das vertentes musicais dedicadas à introspecção, à experiência estética, ao pensamento próprio e etc. Ao mesmo tempo, e curiosamente, certos grupos tentam extrair dessas vertentes de entretenimento elementos que pertencem à outras fontes e que nunca foram objetivo das primeiras. Então temos pessoas que se dizem intelectuais por assistirem Harry Potter e retirarem do filme citações filosóficas, abstrações retóricas sobre a condição humana e etc. A mim me parece tentar realizar uma competição olímpica de natação em uma piscina de plástico. Mais uma vez, vale a ressalva de que elementos filosóficos e retóricos podem ser retirados de praticamente qualquer realização humana e que se trata de um esforço muito válido. A crítica aqui, se há, está direcionada àquelas pessoas que se reduzem a esse esforço, fazendo de sua imagem intelectual um compêndio de anotações sobre piscinas de plástico, sem nunca ter a coragem ou a disposição de arriscar águas mais fundas, achando inclusive que isso não é necessário. E se você leu até aqui, o que eu duvido muito, meus sinceros agradecimentos. Adios.

5 comentários:

  1. Sim, eu li até o final! E ao invés dos parabéns, solicito que responda aos meus e-mails, rs! Você os recebeu, né?!

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  2. Cara, nem foi tão longo assim! (sinal de que foi bom. eu já li textos imensos de 15 linhas)

    E realmente o que você diz faz sentido...Eu noto isso nos livros sobre Simpsons e a filosofia, por exemplo. Claro, é justo e natural tentar buscar sentidos e significados em tudo de que gostamos (eu mesmo acho que a fase do Stan Lee no Homem Aranha não deve nada pra qualquer peça do Brecht ou do tio Shakespeare) mas será que esse sentido realmente existe?

    E o ecletismo de hoje é caótico mesmo.

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  3. Esse eu vou deixar pra ler quando perder as duas pernas, os dois braços, os cabelos e a língua.

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  4. Não é questão de gosto, é questão de sofisticação de ouvido, coisa que vc claramente não tem.
    além disso, dizer que há uma "desordem", que cada instrumento "fala" de uma coisa diferente, é um sinal do seu despreparo para escrever sobre tal assunto.
    Falar que o sax é um instrumento "cafetão"??? Vc é um ignorante! Deve ter ouvido sax apenas em filmes pornô.
    Já ouviu falar em John Coltrane, Paul Desmond, Stan Getz, Wayne Shorter?? Provavelmente não, né...
    Então fique quieto. Fale sobre coisas que vc entende!

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  5. meu caro anônimo. críticas são sempre bem vindas, se vierem de pessoas que têm um nome. Como você nem se quer se identifica, não vou perder tempo esboçando uma resposta.

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pode falar, eu não estou ouvindo