quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os intocáveis


Sei de uma menina que é avessa a tudo aquilo que não pode explicar. Por isso anda sem olhar para o céu, por isso dorme de uma vez, por isso usa a noite presa à franja, que é para o escuro esconder os rostos e os motivos. Por isso nunca fica sozinha. E está sempre só. Delicadamente só.

Quis ser bailarina, mas a tristeza inchou seus pés, a tristeza guardou sua delicadeza em uma caixa de carne. Quis ser amada, mas a maldade sangrou seu sorriso, a maldade prendeu-se ao seu pescoço e a empalideceu. E a fumaça de seu cigarro escondeu outros brilhos. Tudo nela está fechado, e os dias em seus olhos são domingos, são feriados de homens mortos. As mãos em punho, os dentes cerrados. Sei dessa menina cujos pardais morreram, cujos cães são bravos, cujos amantes são brutos e as luas são frias.

Quando ela anda rodeada pelos seus, os outros a definem como intocáveis. A menina altiva de lápis escuro, o rapaz magro com os ossos à mostra, e ela. Os intocáveis. Juntos eles construíram para si apenas coisas fantásticas: abismos, prisões, labirintos, fortalezas. Sei de uma menina que se gaba por ter sido capaz de erguer dentro de si um cemitério.

3 comentários:

  1. espero não ser assim, nem hoje, nem nunca!

    ResponderExcluir
  2. Zé e suas musas inspiradoras...

    ResponderExcluir
  3. Não sei se suas musas são mais graves do que as minhas ou se eu é que sou totalmente desprovido dessa veia poética. Mas bah, acertou de novo.

    ResponderExcluir

pode falar, eu não estou ouvindo