sábado, 28 de novembro de 2009

quando as coisas acabam

Engraçado sentir como as pessoas que importavam tanto agora não importam mais. Passaram, foram embora, ficaram ali onde a imagem escurece. Como as rotinas abandonadas, os caminhos que deixamos de fazer por que o tempo passou. Por que não vamos mais aos mesmos pontos e as mãos que seguramos são outras. Por que as distâncias mudaram, são de outra matéria. Engraçado como as pessoas desaparecem. E os seus lugares estão ocupados por outras pessoas: na mesa de casa, no sofá, no coração. Deixamos de saber a cor de suas vozes, e da forma como nos chamavam, deixamos de esperar na porta de suas casas, a alma aflita, o sorriso quase triste. Esquecemos como eram seus gostos, ou como dormiam em nosso colo, ou como desfaziam com as mãos os cabelos. E as datas de aniversário somem dos calendários; já não são mais feriados e passam como terças-feiras. Se antes conversávamos todos os dias, hoje não saberíamos o que dizer. Não teríamos onde colocar as mãos, mesmo que antes pudéssemos colocá-las onde quiséssemos e pareceria natural. Mesmo as lembranças se esquecem, os presentes, as cartas, as roupas e as pequenas caixas azuis, tudo se torna concha ou ruína. Um eco de alguma língua desconhecida. Como a última lembrança de um sonho ou a primeira hora da manhã. Mas a dor que fica, essa dor carinhosa, não é pela falta que fazem as pessoas, mas pela ausência de dias que por um instante pareceram eternos. Mas que anoiteceram, como tudo na vida. Essa dor morna que é o cheiro das pessoas que já não estão mais conosco. Essa dor que é o sorriso na foto em preto e branco.

6 comentários:

  1. Achei uma grande coincidência...
    quando estava lendo esse texto seu, começou tocar aqui no pc "A idade do céu", do Paulinho Moska.
    E no começo fala bem assim:
    "Não somos o
    Que queríamos ser
    Somos um breve pulsar
    Em um silêncio antigo
    Com a idade do céu..."

    acho que, de algum jeito, esse trecho faz bastante sentido...

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  2. As coisas acabam e o que fica são as lembranças, as caixas azuis e as camisas que você só usava pra agradar alguém.

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  3. E eu, que queria só ler alguma coisa bonita antes de ir estudar...

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  4. "hoje não saberíamos o que dizer"...

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  5. zé... juro que me emocionei pra caralho com esse...

    tenho meus motivos. e se encaixam perfeitamente no que o texto diz.

    foda.

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  6. se a gente morasse na mesma casa, dividisse o mesmo banheiro e misturasse as toalhas, eu até entenderia porque tem dia que você escreve exatamente o que eu tô pensando. só espero que vc não resolva cobrar pelo trabalho braçal...

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pode falar, eu não estou ouvindo