quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dona Gertrudes I


Esse é um texto antigo e longo. Resolvi postá-lo para não deixá-lo mofando nas gavetas virtuais
A dona Gertrudes é a senhora rosada que mora na última casinha da última rua da Vila Monticelli. Como toda senhora rosada que se preze, ela possui gerânios na janela, uma horta com cebolinha no canto do quintal e um gato velho e gordo chamado Afonso Mariano. E exatamente como toda boa senhora rosada ciente de sua rosada condição, a Dona Gertrudes possui uma opinião sobre tudo, do namorico da vizinha à crise financeira internacional, da nova tendência de moda indiana ao preço da mandioca na feira. Há porém, uma diferença que precisa ser considerada. Na altura de seus 86 anos, Dona Gertrudes já viveu o bastante para chegar a certas conclusões definitivas e não se influenciar facilmente pela mudança do mundo ou pela mentalidade leviana das novas gerações. Enquanto a maior parte de suas amigas velhinhas acha mesmo que o mundo anda uma pouca vergonha, que as mocinhas novas não tem juízo e que bom mesmo é fazer engenharia ou trabalhar para o governo, a Dona Gertrudes alcançou padrões extremos de conservadorismo. A boa e rosada velhinha defende a tese de que todas as pessoas deveriam morrer e o mundo ser habitado novamente pela sua prole.
Por ser parente distante do primo de um neto da tia falecida de Dona Gertrudes, e por me chamar José, que é o nome de seu primogênito, seu trato comigo beira o diplomático. Graças a isso consegui me aproximar de sua bucólica residência e, milagre dos milagres, ser convidado para limpar o quintal, por um preço absurdamente injusto. Foi assim que pude travar as entrevistas que agora tentarei relatar com o máximo de precisão.

Um comentário:

  1. Pressinto conteúdo épico e transformador se aproximando. Ou não. As vezes eu espero demais das coisas. Mas confio no potencial do conceito.

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pode falar, eu não estou ouvindo