esses dias lembrei dos dias esquecíveis. de quando era eu quem pulava sem nexo entre palavras difíceis e poses fáceis. por sorte durou pouco: antes que a tarde colhesse meus despojos, já havia entendido. por isso nem sei; por isso nem sei por que me lembrei de quando estava perdido. e por lembrar sem saudade nem nostalgia - do rock, do cheiro nos cabelos, das meninas tão brancas, das gargalhadas. talvez não fosse aquela a minha época nem nada - hoje entendo por que prefiro o silêncio à letargia.por que compreendo a importância do esforço e o brilho falso da rebeldia. Não era força, era ignorancia, não era beleza, era alucinação, não era certeza, era impulso, não era paz, era preguiça, não era amor, era medo, não era nem sexo, era fuga. mas foi preciso lembrar de quando escolhia as palavras que falassem por mim. de quando escolhia as roupas que falassem por mim. de quando acreditava no poder do nada e na mentira do tudo. por sorte durou pouco: acho que é como disse o cantor - minha alucinação é suportar o dia-a-dia, meu delírio é a experiência com coisas reais. esses dias lembrei de quando fingia ser alguém que não fui, que não sou, que não serei jamais.
Meu amigo tem 70 anos.
ResponderExcluirRola uma coisa meio mid-mid-life crisis ou eu estou viajando nessa?
ResponderExcluirÉ... Também recordo, com vergonha, de algumas posturas e do esforço que fazia para que as coisas me definissem. Mesmo que definissem o que eu não era.
ResponderExcluirDe certa forma, todo mundo vive essas pequenas mentiras, que as vezes se tornam uma vida inteira.
Eu também lembro dos meus!
ResponderExcluir