quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Blogues e tal


Um blogue não foge de seu parentesco virtual; por mais literário e obscuro que seja, ele continua sendo primo-irmão do orkut, do facebook, do twitter. Ainda que possa, diferente desses outros, ter predecessores bem definíveis no mundo não-virtual, naquilo que concerne aos seus efeitos sobre os blogueiros, o blog continua sendo um filho-da-internet.

É filho-da-internet no sentido de permitir, ou exigir, ou resultar na criação de uma imagem pública. Em outros momentos, seria bacana usar o termo avatar, mas atualmente corre-se o risco de aludir a alienígenas azuis que vivem como índios norte-americanos. Por isso vou usar o termo “imagem pública”, que é mais clichê, menos hindu, mas é simples e direto.

Veja bem, não falo aqui dos blogues utilitários ou informativos que existem às pencas por aí e que parecem funcionar muito bem em seus intuitos práticos. Refiro-me a aqueles blogueiros que, como eu, criam páginas cuja atração principal, o motivo primordial e a razão de existência é, em tese, o texto. Eu percebo que, no início, somos levados a manter o blogue por um motivo claro e um difuso. O motivo claro é o de treinar a escrita e mostrar sua produção para o mundo. O difuso é o de alimentar esse pequeno déspota carente que trazemos na barriga, uma criaturazinha que necessita de reconhecimento, de aplauso e de olhares.

Com o tempo, o motivo difuso vai ganhando força e adotando uma identidade própria – uma imagem pública. Nossos textos, e agora nosso layout, nossa descrição, nossos links, precisam dar conta dessa imagem que queremos ter e que necessitamos que os outros tenham de nós mesmos. Porém, não acredito que a vontade de escrever se denigra no processo, como que para ceder espaço para esse outro intento. Ela continua firme e forte, mas agora está focada, tem um objetivo mais claro. Passamos a nos forçar a escrever de dois em dois dias, ou todos os dias. Começamos a escolher temas que vão agradar os leitores ou que vão reforçar nossa imagem. Passamos a contar o número de comentários, a respondê-los e, nas nossas respostas, adotamos também a mesma imagem pública. Abrimos o blogue toda vez que ligamos um computador. Finalmente, mantemos nosso blogue com o mesmo preciosismo que uma adolescente espinhenta mantém seu orkut. E com as mesmas fotos trabalhadas em photoshop.


4 comentários:

  1. Mais um texto sobre um assunto que eu tinha pensado em mencionar mas que você escreveu antes, melhor, usando menos linhas e poupando a humanidade de umas 17 piadas sem graça. Obrigado, Zé.

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  2. Escrevi um texto semelhante, falando que manter um blog é uma espécie de narcisismo verborrágico. Com o seu texto, sinto que até esse comentário foi narcisista, hehehe.
    Gostei muito do texto, foi quase uma descrição pessoal. Hehehe. Mas acho sim que se pode encontrar boas produções em blogs. O foda é quando se escreve qualquer coisa para não cair o rítimo de produzir um texto por dia.

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  3. Heheheh.

    Um bom texto é aquele que traduz o sentimento do leitor.

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pode falar, eu não estou ouvindo