Não é sério

Eu vejo a comoção do caso Nardoni e me entristeço. A despeito do ocorrido, do crime, dos fatos, o que me desanima é saber que aquilo tudo não é sério. Que nada é sério. E as pessoas só se importam com o que pode ser transformado em espetáculo. Elas só se consternam ou se preocupam com o show, com o que é exagerado e fácil. As pessoas não são sérias. Vivem a desviar das questões essenciais, a achar difícil o que é importante, e a ocupar seu tempo e sua vida com assuntos pouco relevantes. O que é sério para elas é o que não importa: e estão aí a morrer pelo futebol, a discutir o BBB, a passar seus dias tentando encher o vazio com elogios e serpentina, com amores mínimos e paixões imensas. E o cansaço que se desprende de um mundo assim me derruba no chão. Um mundo que não é sério nem naquilo que apregoa seriedade; seus políticos são crianças brigando pela bola, seus profetas são vendedores de carros, seus sábios não sabem ser feliz, seus heróis são atores, seus deuses são servos e não senhores, seu amores são chantagistas e suas lágrimas, suas lágrimas... não sabem por que e nem por quem caem. Entristeço-me por ver que a morte de uma criança foi desonrada de tal maneira: com espetáculo, excesso e gozo. Com o mesmo desrespeito dos shows de horrores e dos programas de auditório dominical. E as pessoas, satisfeitas suas próprias carências, voltam para casa e dormem, pensando nas milhares de coisas sérias com que precisam ocupar o amanhã. Mas não é sério.