Para eles a vida é a arte de caber. Caber no nome, no terno, na agenda, em vinte e quatro horas. Pegar um rio pelo pescoço, torcê-lo qual cobra verde, dar-lhe oito nós, e guardar no bolso. Pegar o céu inteiro e amassá-lo como papel de carta, ou enquadrá-lo para que caiba no chaveiro. E se sobrar tamanho, ou planos e gordura, a vida também é a lição de se reduzir. Uma lição que se toma em goles curtos, um por dia, como uma alice paciente, e sem ter fim, como o cálice de Jotunheim. Reduzir até caber: aparar os pêlos, lixar a pele, apontar os dedos, cortar a carne onde ela exceda. E depois do tamanho justo, achar uma caixa para se guardar. Para eles a vida é a busca eterna por caixas. E eles sonham toda noite com caixas, e pensam constantemente em caixas: caixas com rodas, caixas com dois andares e piscina, caixas que geram imagens, caixas de banco, e as mais sutis; nomes, marcas, títulos, classes, tudo que empacota e os torna contáveis. A arte de caber exige ossos maleáveis ou cartilagem, até que, finalmente, todos eles estejam reduzidos ao que só cabe na caixa derradeira; aquela longa, triste, de madeira.
Bão.
ResponderExcluirCara, eu vi ontem mesmo um episódio de Lost com um longo monólogo sobre caixas.
ResponderExcluirEu sei, eu sei, meus comentários voltaram a não ter sentido...
Já assistiu "A partida", japonês?
ResponderExcluirZé, outro dia escrevi em meu blog algo sobre espaços apertados. Nessa mesma conotação das caixas que vc descreve aqui. Se antes tivesse visto esse texto, o teria reproduzido por lá. Com aspas e crédito, infelizmente.
ResponderExcluirPreciso de um livro seu. Como faz?
Bom! Adorei o final!!!!!!!
ResponderExcluirDerepente todo mundo lembra de todas as coisas a ver com caixas que viram nos ultimo tempos. '-'
ResponderExcluirLembra do comercial da caixa? *-*
com a musiquinha "vem pra caixa vc também! :D"
Taa,momento tenso; mudando de assunto,adorei seu texto.