sexta-feira, 9 de abril de 2010

terra


como uma mãe ciosa, a terra abraça seus filhos. E depois os devora, como uma loba no cio. Como a praia de casa, a terra recebe seus filhos. E depois os arrasta pra dentro, como um rio. E se há mar em seus olhos, a terra se ressente e se afasta, mas se os olhos estão secos, a terra os preenche de lágrimas. Seus filhos, cristãos e mancebos, vestem a terra de santa: cobrem seus seios de casas, metem asfalto em suas ancas. Depois morrem soterrados, quando ela se despe e se lava. Como uma mulher, a terra se deixa penetrar. Vive prenhe e inchada. Enquanto lhe tocam onde é raso, sob a pá e a enxada, até onde é úmida, a terra não se ofende. Mas quem quer ir mais fundo e teima, logo aprende:por dentro, como toda mulher, a terra queima.

6 comentários:

  1. Gostei da comparação.
    (pensei agora em como a terra parece rodar quando a gente vai bêbado pra casa e como isso parece coisa de mulher vingativa)

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  2. comentário estúpido: nossa, zé! sou sua fã!
    =P
    ahan. mto legal.

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  3. bela comparação. e o fato de a terra também poder ser vingativa torna tudo mais próximo.

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  4. "Depois morrem soterrados, quando ela se despe e se lava."

    pq será que lembrei do RJ? ><

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  5. Não gostei do início, mastodo o resto é MUITO MUITO BOM!
    Sério mesmo, muito interessante!

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pode falar, eu não estou ouvindo