quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fábulas do relacionamento




I.
A Paula tinha uma turma só de amigos homens. Mas turma naquele sentido mais colegial da coisa: saiam juntos para tudo, trocavam tapas como mostra de afeição, faziam concurso de arroto e macarronada, dormiam amontoados em qualquer sala de kitnet. Eram o Butica, o Pelado, a Paula e o Peido. Sim, o Peido. De todos, o Peido era o mais certo ou ,pelo menos, o único que não passava as noites todas em campeonatos de Mario kart com tequila. E a Paulinha, tão pequenina, tão mocinha, tão bonitinha, entrava na bagunça como um mano. Salto alto, decote e sabia xingamentos tão cabeludos que deixariam o Tony Ramos se sentindo nu. Mas aí, aconteceu o acontecido. Para a surpresa geral, Paulinha apareceu namorando ninguém menos que o Peido. Depois disso, as coisas começaram a desandar. Era uma história do Peido ficar em casa, de não poder ir pra sinuca, de ter que ir embora mais cedo, de comprar rosa no dia dos namorados e tal. Mas a turma agüentou firme, heroicamente, até o último golpe da Paulinha. No final de uma noitada de sushi com ruffles, o Butica resolveu ligar:
- Alou, Paula?
- Oi Butica.
- Uai, Paula, cadê vocês?
- Ah, Butica, a gente não vai hoje não.
- Qualé, Paula ! Passa pro Peido aí. Só ele tem a caixa de pôquer completa.
- Pra quem?
- Pro Peido, ora!
- Olha, Butica, não tem nenhum Peido aqui não. O nome do meu namorado é Antônio Afonso, e é assim que ele deve ser chamado. É um nome tão bonito.
Depois disso, eles sabiam que a turma estava com os dias contados.
Moral: namoros acabam com apelidos criativos.

II.
Bernardo confessou à Lurdinha, sua namorada, que tinha uma fantasia sexual. Queria vê-la vestida de pastorinha. Sim, pastorinha, daquelas com cachinhos, vestido azul e báculo.Ela riu, riu horrores. Demorou uma semana para se recuperar. Por um mês, não podiam passar por uma igreja evangélica sem que ela caísse na risada. E o Bernardo de cara fechada. Não devia ter confessado nada. Mas acabou que Lurdinha topou fazer ( nas palavras dela, qualquer coisa que não envolvesse anões, pás e roupas de astronauta poderia ser realizado). Alugaram uma fantasia e pagaram um motel. Uma semana depois, repetiram a dose. Na semana seguinte também. No aniversário de namoro, Bernardo foi surpreendido ao encontrar a namorada vestida de pastorinha. Estavam indo para o cinema. Bernardo perguntou o que significa aquilo, Lurdinha respondeu com um sorriso angelical. Mas estava preocupada. E se o guardinha do cinema não a deixasse entrar com o cajado? No churrasco de família em comemoração à promoção de Bernardo, Lurdinha apareceu com uma novidade. Agora trouxera umas ovelhas com ela. Disse que tinha conseguido com um tio que era fazendeiro no sul. As ovelhas a seguiam onde fosse, balindo e fazendo coisas de ovelha. Bernardo ficou chocado. Quis terminar, mas a namorada o persuadiu do contrário. Dois dias depois, estavam na cama, na parte mais quente da ação, quando Lurdinha, apoiada em seu báculo, gritou:
- Meu bem, meu bem, bale pra mim.
- O que?
- Bale! Faz beréréréréré
Bernardo terminou em seguida.
Moral da história: não leve cajados e báculos para o cinema.

5 comentários:

  1. Zé... Não sei o que me surpreendeu mais:
    1º Constatar que toda Paulinha é phoda?
    2º O lance de levar báculos ao cinema?
    3º Ou encontrar a foto da minha amiga Érica no seu blog!!!!!
    Por essa terceira eu não esperava nunca!!!!
    kkkkkkkk
    Ótimas crônicas!

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  2. Fique mal pela galera do Peido. Namoradas que desagregam turmas são imperdoáveis.

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  3. Adorei o senso de humor!
    Campeonatos de Mario Kart resumem todo o meu 3º ano... saudades dessa época.

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  4. Ah, de vez em quando seguimos por um caminho e esse leva a rumos que nós não gostaríamos que tivessem sido seguidos, mas não sei se eles devem ser arrependidos. Às vezes eles eram necessários.

    Ps. Há certos apelidos que precisam acabar!

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  5. E tem aqueles casos em que um apelido maneiro como "comedor de casca de parede" é substituído por um desagradável, como Rafucho.

    (e porque certas garotas tem problemas com roupas de astronauta? nunca saquei isso)

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pode falar, eu não estou ouvindo