Não sei vocês, mas acho um abraço algo mais espontâneo que um beijo. O beijo em si já é conclusivo, é quase contratual. Para chegar a um beijo caliente, por exemplo, é preciso toda uma burocracia, assinar papéis, galgar etapas, passar de fases, vencer chefões etc. Existe uma hierarquia militar no ato do beijo, uma moral cristão que te impede de dar lambidas na sua avó ou selinhos no seu amigo. A não ser que seja roubado, o beijo apenas confirma alguma revelação anterior, previamente definida e estipulada. Espera-se que você beije sua namorada na boca, sua tia nas duas bochechas e que você não beije, em hipótese alguma, outro homem (a não ser na Rússia, ou em filmes de máfia italiana).Mas nenhuma regra de etiqueta estipula com que intensidade você deve abraçar sua avó (só se ela tiver osteoporose ou síndrome dos ossos vulneráveis) ou um desconhecido (bom, acho que há regras claras para o caso dele começar a apalpar sua bunda)
O abraço, então, mantêm-se como um terreno selvagem e sem lei. Talvez por isso seja mais revelador e sincero que o beijo. O ato de abrir-se, de tocar peito no peito, não permite hipocrisias. Aposto 30 moedas de prata que Judas não seria capaz de trair Jesus com um abraço. Um abraço revela muito do que sentimos e queremos. Além do fato de que a gama de sentimentos que o permitem é muito mais extensa que a do beijo. Você pode abraçar alguém por medo, por susto ou por tristeza. Pode abraçar alguém que conquistou algo ou que perdeu algo, o vencedor ou o perdedor. Você pode inclusive matar alguém com um abraço ( não é isso que lutadores de jiu-jitsu fazem?).Sem falar, claro, que o termômetro mais fiel para saber se há química num par é o abraço. Isso é certeza retumbante. Abraço que encaixa é quase um pré-contrato de casamento e filhos.
Tive uma namorada que não sabia me abraçar. Ela deixava o corpo longe, passava os braços por cima e, para matar, dava tapinhas amistosos nas minhas costas. Em uma escala de 1 a 10, nossa química sexual ficava próxima de um brócolis. O namoro não durou muito, claro. Tinha beijos demais e abraços de menos. No fim, a coisa era mais mental que sensível. Por que beijos são mentais: você pensa antes de dá-los, pensa em quem dá-los. Durante o beijo, você pensa no próximo passo e em onde suas mãos podem se enfiar. Beijo é diplomático, abraço é rendição. No beijo você pede algo em troca, no abraço você oferece. O beijo exige técnica, o abraço é sempre inexperiente. O beijo tem que ser aprendido. O abraço não. O beijo é uma prova de amor. O abraço não. O abraço é uma confissão.
Abraço que encaixa é quase um pré-contrato de casamento e filhos.
ResponderExcluirTenso!
Fantástico!
ResponderExcluirConcordo, e um caso a se pensar: por quê tem se tornado tão mais fácil o beijo do que o abraço? O abraço é tão espontâneo, tão ingênuo, e tão necessário! Muito mais que o beijo, de fato. Nossos relacionamentos não devem estar fadados ao tecnicismo e, romântica assumida, como sou, devo compartilhar uma visão pessoal. Qual seja, já quase no fim, bem velhinhos, os grandes amores abandonam as técnicas e é bonito de se ver a cumplicidade construída, já não temos nada a esconder, somos mais rendição na experiência de uma vida inteira, o mundo e o tempo já não importam, resta-nos amar. Será que o amor exige é tempo? Se for, as pessoas deveriam planejar suas vidas também neste sentido, os beijos não podem continuar efêmeros e os abraços por se dar. Defendo o mistério, a revelação em um abraço, brilho nos olhos, e sorrisos, não sei ver o amor sem tudo isto. Gostaria de ler algo de quem pensa de outra forma, que tenha racionalizado o amor, e vivido assim, acharia bem curioso.
É, vou pensar duas vezes antes de abraçar os outros. E beijo nem sempre é uma prova de amor.
ResponderExcluirEu, como pessoa que tem uma área interpessoal de cerca de 62 km (quando as pessoas descem do metrô na minha rua eu me sinto incomodado, pra dar um exemplo) admito que pra que eu abrace alguém é preciso realmente que a pessoa seja muito, mas muito, mas muito importante pra mim.
ResponderExcluirOu que eu esteja bêbado, claro.
Abraços...ahh os abraços, companheiros queridos em todos os momentos,realmente em numerosas situações valem muito mais que um beijo, mas nem sempre tem o reconhecimento merecido e você soubre retratar isso como jamais tinha visto, Meu Amigo de Bons Abraços!!!
ResponderExcluirFinalmente uma ode ao abraço!
ResponderExcluirJá o havia colocado em um poema, pensando em algo como você disse, mas como já é frequente, traduziu em palavras algo que eu sempre tive em mim e nunca soube delinear!
O abraço é uma poesia! (ficou meio gay, mas eu acho que é mesmo)
os procedimentos que eu utilizo pra achar algum texto bom toda vez que quero ler algo é o seguinte: primeiro analiso o tipo de blog depois o titulo e depois de 20 min e se não achar nada venho aqui ou no blog do João que é certo que tenha algo *-*. Lembrei que tenho um livro azulzinho com 2 ursos polares se abraçando na capa titulado "Terapia do abraço".
ResponderExcluirJa que você falou em brócolis, lembrei de uma piadinha sobre xuxu, sabe pq xuxu? pq só da uma vez ao ano kkk- eu sei é sem graça :B
ResponderExcluiré ótimo abraçar quem sabe abraçar. e tapinhas amistosos nas costas, realmente, são dispensáveis. abraço, Zé!
ResponderExcluirZé, zé, zé... você é genial!
ResponderExcluirMuito bom o texto!
Cara, não conheço você, mas acabo ouvindo falar sempre pelo João e resolvi dar uma olhada por aqui...
ResponderExcluirParabéns! Excelente texto! Com certeza abraços são mais necessários e aconchegantes que beijos.
Olá,
ResponderExcluirSeu blog é muito legal! Parabéns pelos textos! Acho que agora vc tem mais um leitor, pra se juntar àqueles quatro ou cinco, rs.