Não tenho escrito muito por que estou preso. Tranquei-me dentro de uma idéia, não das mais espaçosas, nem das mais bonitas, senão a menor e menos cômoda de todas. Mas ninguém me prendeu contra a vontade. Eu me fechei por própria conta – sem perceber, é certo, mas por própria conta, como a bailarina que, sem ver, anda na ponta dos pés. E as palavras sabem disso. São criaturas ariscas, as palavras, semi-domesticadas, semi-bárbaras. Poucos homens foram capazes de domar todas as suas palavras e fazer delas o que bem entendessem. Elas carecem de liberdade, de amplidão, de ar puro. E eu aqui preso. Nada tenho que lhes atraia. Plantei um pé de dúvida e colhi uma penca de muros.As poucas palavras que me sobram são domésticas, são gordas e preguiçosas, galináceas, muito dóceis sim, às vezes tenras, mas sem vida própria. Estou fechado em uma idéia que nem a pena vale, e tenho a impressão de que minha vontade de sair se recolhe. Mesmo que as paredes me apertem e meus pés escapem pela janela, é como se, de repente, sair ao ar livre doesse.
Até quem dorme demais se sente cansado ao acordar.
ResponderExcluirBelo texto, é real?
Abraço
Belo...bom passar por aqui onde palavras dizem, desdizem, redizem...
ResponderExcluirAbraço
Algumas vezes até as idéias precisam descansar e dormir.
ResponderExcluir(e nessas horas um x-box vai bem, sério)
já tranquei palavras por tempo indeterminado várias vezes. funciona bem.
ResponderExcluirZé, eu te vi no dia do concurso. ;P
beijos. :*
De vez em quando as idéias saem de férias mesmo. Mas é bom, porque voltam cheias de suvenires.
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