segunda-feira, 21 de junho de 2010

RESTART


Besteira achar que as músicas de hoje estão muito piores que as de antigamente. Sempre existiram músicas boas e ruins, e as ruins sempre superaram as boas em quantidade. Ora, quantas bandinhas meia-boca de cabeludos drogados parecidos com mulheres não foram necessárias para se chegar a um Led Zeppelin? Quantos gays de bigode não juntaram sua patota de tecladistas medíocres antes que surgisse um Queen? E para cada Tom Jobin, poderíamos contar as pencas de playboys metidos a pianistas.

Alguém pode ainda argumentar, como quase sempre se argumenta: ah, e o que é isso de música boa ou ruim? Tudo questão de subjetividade, relatividade, ascendência cultural e fase da lua. Certo, certo, e viva a alteridade. Mas os que defendem essa linha de pensamento, que é legítimo e verdadeiro, quase sempre esbarram em um argumento irrefutável: Rebolation. Em épocas de Rebolation, fica difícil defender a relativização do bom e do ruim.

Mas enfim, se antes havia tantas bandas ruins quanto hoje, o que mudou? Mudou a exposição. Hoje há mais espaço para se mostrar, há mais mídia, mais possibilidades e, convenhamos, está mais fácil ficar famoso. Mas, na minha opinião, a grande mudança está na razão pela qual as pessoas escutam música. Pegue uma canção da banda adolescente Restart, por exemplo. A música mesmo, em seu sentido original, é o menos importante ali. É quase como um resíduo, um efeito colateral, algo que surge involuntariamente de outro processo – o processo da imagem. Digo imagem num outro sentido, naquele que a aproxima do termo “conceito”. O que importa é o conceito, ou seja, o arcabouço de pensamentos, fantasias e projeções que aqueles cinco ou seis adolescentes representam. Acho balela criticar a falta de qualidade musical do grupo. O público alvo não quer qualidade musical e o objetivo da banda tampouco é esse. O objetivo de bandas como Restart, Cine, Jorge e Mateus, o cara do Rebolation, não é fazer música. Seria uma puta falta de sacanagem esperar que pré-adolescentes criados em lares consumistas e de cultura pop suportassem “música de qualidade” ( entre aspas, friso).

No fim, a verdade é que Restart é uma banda adolescente e não uma banda de música. Não há nisso nada que se condenar. Condenável seria se os moleques fossem apresentados como virtuoses da vanguarda musical, como representantes da cultura musical do país e etc. Não são. Não são. O objetivo deles é apenas servir de válvula de escape para hormônios e ilusões de crianças imberbes. Nisso cumprem seu trabalho muito bem. Tão bem quanto cumpriram os backstreetboys ou os menudos na adolescência dessas moças que hoje torcem o nariz para Restart ou para Rebolation dizendo: o que está acontecendo com as pessoas de hoje? Oh meu deus, o que está acontecendo? Nada. A verdade é que nada. Não está acontecendo absolutamente nada. Está tudo na mesma.

10 comentários:

  1. Zé, vc é um sujeito que conheço desde as fraldas. E é interessante ver como escreve bem, organiza as ideias e tal.
    Tb fomos ou somos colegas de profissão e oriundos da mesma Facomb.
    O que se diz tanto sobre a música do passado ser melhor é justamente o que vc proferiu: as "bandas" não são bandas.
    Mas esse fenômeno não é tão antigo assim.
    As bandas até a década de 70, por mais voltadas para a imagem que fossem, ainda eram bandas, ainda podiam ser simplificadas em seu som.
    Hoje, ah hoje...
    Vemos que o som não interessa, e pessoas que se dizem músicos, pessoas com vinte e poucos anos, são capazes de cantar amores adolescentes que eles sabem ser apenas ilusões hormonais.
    Por isso eu só gosto de temáticas adultas e sarcásticas.
    E, com certeza, você tb.

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  2. E Deus disse: Que se façam Torreais, heheheh.

    Quando penso nos livros ruins (mas que possuem correta escrita - ortografia e gramática) ainda acho um ponto positivo: o início do gosto pela leitura ou a criação de um raciocínio intuitivo e mnemônico.
    Agora, música ruim, digo a música pela música... essa ainda não encontrei. Quando as pessoas se juntam para ouvir e dançar música ruim eu entendo: é criado ali um evento, um momento de convivência, de interação. Aceito que dancem funk, por exemplo. Agora outro dia ouvi um "proibidão" no carro de uma colega... ah... aí não...

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  3. Olha Zé, vão te xingar muito no twitter hoje.

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  4. É mesmo uma puta falta de sacanagem, como conversamos outro dia. hehe

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  5. hahaha. eu gostava de Backstreet Boys.

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  6. Putz, Zé... o preconceito tomou de conta e eu não consegui começar a ler seu post só porque ele chama Restart. Sacanagem, eu sei.

    Mas assim, tudo ok se eu linkar o ODM (Ouvi Dos Mudos) nos favoritos do meu Novo Blog?

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  7. "O público alvo não quer qualidade musical e o objetivo da banda tampouco é esse. "

    Por que a maioria das musicas nada têm a ver com MÚSICA?!!!


    Isso pode não ser condenável, mas com certeza me deixa triste. Seria tão melhor se musicos se preocupassem com musica, daí talvez fosse mais facil acharmos as coisas que realmente prestam.

    Ainda bem que existe internet, pois se eu dependesse de MULTISHOW, MTV e RADIO pra me informar sobre musica eu morreria musicalmente deprimido!!! E isso me entristece um pouquinho, de verdade!

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  8. Eu já gostei de Limp Bizkit, então não posso criticar ninguém e devo sentar no cantinho repensando meus atos.

    (mas achei vacilo não ter aparecido nenhuma menção ao Felipe Dylon)

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  9. A experiência do dia foi: chamar minha irmãzinha de 10 anos pra ler o post; como eu pensava pude confirmar com o "não entendi" dela que crianças de 10 anos não tem pensamento critico hum..
    Ainda acho que Beatles era um "restart" ou "KLB" da vida, a unica diferença é que era época do "auge" de praticamente tudo: filmes;dietas;propaganda;music etc.. A acho que todas essas coisas eram meio que "novidade". Ainda acho possível que crianças criadas em lares consumistas venham a se interessar por musica de qualidade, vamos frisar musica de qualidade dentro dos padrões vanguardistas aceitáveis.

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  10. Isso! Felipe Dylon!

    O grande problema de musicas atuais ruins (ou relativamente ruins) é quando você tem sobrinhas/irmãs/filhas que te obrigam a escutá-las.

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pode falar, eu não estou ouvindo