terça-feira, 20 de julho de 2010

Estanque


A vida parou e repetiu. Ele viu o mesmo amanhecer de ontem, as mesmas horas frias, como se espelhadas. De início foi assustador, mas não por muito tempo. Logo se tornou costume. A vida parou e repetiu. Passou a falar as mesmas coisas e a fazer os mesmos caminhos. Pensava em esferas mensuráveis, queria sonhos com enredo, tinha fé e não duvidava muito.
A vida parou e repetiu. Agora ele deslizava num semi-torpor líquido, por saber-se rei de seu mundo. Seu mundo que eram as horas repetidas, marcadas nas orelhas como páginas de revista. Seu mundo que tinha a extensão do quarto até a cozinha, dos olhos até os decotes, e deles até as latrinas. A vida parou e repetiu. Ele viu o mesmo anoitecer de ontem, a ainda canção do por do sol, como se retrocedesse. No fim, foi acolhedor. Podia repetir os passos da dança, podia se assustar os mesmos sustos, e se surpreender as mesmas surpresas. Podia amar os mesmos amores, calar as mesmas palavras, sorrir os mesmos sorrisos, cantar as mesmas canções. A vida parou.

3 comentários:

  1. Estou esperando até que alguém incorpore o Rei Leão e cante que é o ciclooo da viiiida.

    Mas foi um belo texto, cara. (e essa questão do “tempo que passa/tempo que não passa” está se tornando recorrente ou eu estou precisando maneirar no café?)

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pode falar, eu não estou ouvindo