sábado, 15 de janeiro de 2011

Dezesseis


Ele respirou fundo e subiu. Treinou lances de olhar no espelho do elevador: talvez dramático, como no começo de novela, talvez matador, como na propaganda de loção pós-barba. Até topar a câmera sorrindo do cantinho. Parou.

Ela estava achando o vestido muito... muito. Não queria dar a impressão de preparo, de unhas comidas ou noites naufragadas. Queria dar a impressão de lavanda. Treinou passagens no espelho da sala: talvez suspensa, como uma princesa austríaca, talvez esfuziante, como uma debutante. Até ouvir a campainha.

Ele a achou tão bonita que foi preciso baixar os olhos. Ela teve certeza: ele não gostou do vestido. Reduziu seu sorriso ao canto da boca. Ele teve certeza: ela não gostou da camisa. Quis dizer como ouvia nos filmes: “não vai me convidar para entrar”? Ela corou – a voz dele era bonita! Ele pensou: deve ter me achado atrevido.

“Ou talvez possamos passear lá fora”, ele disse, para concertar o estrago. Ela pensou: por que ele mudou de idéia tão rápido? Deve ter perdido o interesse. “ Você escolhe.”, ela disse, e ele entendeu: Para ela tanto faz.

Sorriram sem jeito. “ Vim só te ver”, ele falou, pois aquilo parecia tão romântico. Ele quer ser só amigo, foi o que ela entendeu. “Então já me viu. E agora?”, ela perguntou, tentando ser engraçadinha. Ele ficou ofendido. “ Agora tchau” ele disse: e foi embora.


4 comentários:

  1. Textos assim são tão bons de se ler. Trazem, ao menos para mim, um saudosismo bonito. Afinal, vez ou outra, o que o outro diz ou faz se torna motivo suficiente para a imaginação viajar.

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  2. Fiquei até constrangida com o alto nível de identificação. Bem que o texto poderia se chamar Vinte e três, rs.

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  3. Eu ando teorizando que encontros deveriam acontecer com briefing e ata para evitar esse tipo de confusão...

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pode falar, eu não estou ouvindo