segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Carta para dizer que não


Oi. Sei que devia ter escrito antes, já há de fazer uns bons meses desde a sua primeira carta. Que, aliás, considerei de extremo bom gosto, mesmo com a confissão de que rocket man seria uma boa música para tocarem no seu enterro. Quis te responder antes. Mas não vou culpar a correria, por que estaria mentindo: os engarrafamentos não me deixam correr mais. Nem o trabalho, afinal, que culpa ele tem? Está fazendo apenas o trabalho dele. Andei matando trabalho e matando tempo. Mas sei que, no fim, só eu estarei morto.

A América latina ainda te fascina como antes? Ou será que depois desse tempo todo, aposentadas as mochilas, as botinas e os portenhos charmosos, o frio encharcado do pampa já alcançou seus ossos? Espero que não. Antonio disse que, na última visita, o narguilé se transformara num vaso de flores e suas bochechas haviam desaparecido. Disse que você passava mais tempo decorando nomes de ruas e de pessoas que efetivamente freqüentando ruas e pessoas. Eu espero que não.

Mas escrevo mesmo para dizer que sim, ouvi as coisas novas do Dylan. E você está certa: jamais serão tão boas quanto foram. E quanto ao sol e ao calor,sim, continuam bravos por aqui. Também quero dizer que sim, sinto a mesma falta do colégio – e me lembro de como o pátio à tarde se banhava de sol e silêncio, e parecia ser só nosso.

Quanto às provas, sim tenho estudado. Quanto ao que você disse sobre como é difícil falar a verdade quando a mentira é muito mais convincente, sim, eu concordo. Quanto ao que você disse de sentir saudade do que tivemos, do amor sincero e atrapalhado, e de voltar, de ir até aí te ver, perdoar as inseguranças e os deslizes, digo que não. Mas quanto ao feijão tropeiro, sim, posso te mandar uma marmita pelo Antonio.

3 comentários:

  1. Essa foto do Elton John realmente é algo que faz a gente refletir.

    (quando adolescente eu achava que seria bacana se tocassem say it ain't so no meu enterro, mas hoje eu sinceramente prefiro que coloquem uma coletânea do flight of the conchords e todo mundo curta um cheer up murray enquanto come cheesecakes, algo assim)

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  2. Sim, me fez lembrar: "Quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil!"

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  3. E você ainda me diz que anda sem jeito pra escrever e sem inspiração?

    ps. continuo insistindo na opção "excelente" no diga se foi..

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pode falar, eu não estou ouvindo