terça-feira, 21 de junho de 2011

Grow



Por motivos obviamente lúdicos e fanfarrões, as pessoas foram criadas fechadas para dentro. Como se a alma, ou espírito, ou essa coisa que não é visível, também dispusesse de pele e se escondesse atrás dela. Daí que uma das fronteiras mais básicas do mundo está entre o que é íntimo e o que é público; e deve ter custado bastante aos primeiros homens compreender como diabos seria possível que cada ser humano tenha um lado de dentro impenetrável, invisível, que não se alcança nem quando abrimos seu corpo à machadadas... E essa é uma questão ainda intrigante, embora hoje não seja mais tão fácil conseguir machados e nem fazer uso científico deles.
Para piorar a situação, tudo indica que essa pele que nos reveste por dentro não serve apenas para proteção e estética. Ela oculta certas coisas que deveriam ficar ocultas, impede a exposição demasiada e nos dá uma aparência de mistério e profundidade ( que a maioria de nós não possui), mas também nos aprisiona. Antes tivéssemos a capacidade de nos abrir, mas parece que, pelos mesmos motivos obviamente lúdicos e fanfarrões, estamos presos dentro de nós mesmos. Precisamos nos traduzir para o outro e torcer para sermos entendidos. Mas o outro também está lutando no mesmo processo – achando que entende e que é entendido. Idiomas, canções, textos, língua de sinais, placas de trânsito, tudo isso não passa de mímica. Por isso acho que, para entender a humanidade e o inconsciente, deveríamos esquecer as filosofias e ciências e jogar mais Imagem e Ação.

3 comentários:

  1. E eu que sempre me diverti tanto com Imagem e Ação jamais imaginei que era a chave para a compreensão da humanidade. Tô precisando jogar mais então.

    Bonito texto.

    Fran

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  2. Acho que esse foi um dos seus melhores textos curtos, Zé (e olha que não é como se não tivesse concorrência e tal)

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  3. imagem e ação é sempre bom, além de revelar traços da competitividade muitas vezes oculta. ah, e 'fanfarrão' sempre me lembra tropa de elite, porque meus irmãos e primos adoram imitar o... (esqueci o nome do cara, sério. você sabe... o principal).

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pode falar, eu não estou ouvindo