sábado, 17 de dezembro de 2011

A falta



Estávamos no rio, descendo ou subindo. A bússola dava voltas, e as previsões minguavam. Cada vagalhão quase entornava a jangada, molhando nossos ossos por baixo das roupas. E você dizia: não vamos conseguir, ao que eu, prestativo, respondia: é claro que vamos. Uma jangada não agüenta o mar – você gritava, quando o vaguear rugia. Mas isso nem é mar, é só um rio, eu te lembrava. Não é rio, é mar, você me soltava para não perder o pé. – Olhe as ondas, é mar! – Mas também há ondas em rio bravos. – Mas a água é salgada. Pode ser o encontro de rio e mar, talvez. Não há rio de água salgada. Acabamos de encontrar um, eu sorria – É claro que é rio, olha bem, não falta nada aqui pra ser rio: a água, os peixes, a correnteza. Falta sim. Não falta. Claro que falta. Então o que? Falta a outra margem.   

2 comentários:

  1. Diante de tanta agonia, continuo preferindo as piscinas. Suas bordas são bem visíveis, permitindo que eu fique bem agarrada a elas, tendo em vista que eu não sei nadar.

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pode falar, eu não estou ouvindo