sexta-feira, 23 de março de 2012

para Joanna newsom



eu gostaria também de criar algo tão meu que fosse a minha própria vida recriada. algo tão meu que fizesse meus dedos dançarem com a precisão de garras, e meu rosto se desfigurar sem nenhuma sutileza. que fizesse a minha voz tão imprecisa e tão sábia, que ressaltasse da alma o brilho e a imperfeição. eu gostaria também de confeccionar minha dor sozinho com as cordas retesadas, pois eu não preciso de ninguém para doer, e com o sangue sem cor a respingar em meus tons, eu gostaria também de bastar a mim mesmo, sem egoísmo e nem vaidade. eu gostaria também de estar sozinho no escuro, na escuridão completamente minha dos meus olhos escuros, no acalento morno das minhas próprias dúvidas. Eu gostaria também de amar tanto um gesto que me entregasse a ele sem nenhuma ressalva – que me abandonasse nele sem nenhum pudor -  e meu olhar alcançasse além da luz refletida nos outros.  eu gostaria de retribuir a solidão que você me cantou, como se abrisse em meu peito a tristeza exata de um pássaro. eu gostaria também de um dia, quem sabe, ser capaz de cantar uma canção que fosse a mais perfeita definição do silêncio. 

3 comentários:

pode falar, eu não estou ouvindo