Como
já disse em outros posts, não me aventuro a falar sobre filmes, por preguiça de
enfrentar as patrulhas ideológicas. Esse
post, portanto, não é sobre o filme The
Avengers, mas sobre algumas sensações que tive ao assisti-lo.
Existe uma espécie de desamparo muito
específico, ou talvez de tristeza mesmo, nas culturas que preveem o próprio fim.
Percebe-se isso na introdução do Popol
Vuh, o livro mitológico dos maias-quichè, ou nos depoimentos que chegaram
até nós dos sobreviventes de tribos indígenas. Na forma como esses últimos
homens se apegam a suas lendas, a suas danças, a sua língua, num momento em que
já percebem quão descolocadas elas se tornaram.
Nem
é preciso ir tão longe, basta observar como pessoas idosas falam de seus tempos
e repetem velhos rituais, mesmo sabendo que já não fazem sentido, ou talvez
exatamente por saber que não fazem. É um apego infantil, não com desespero, mas
com um fatalismo brando, uma rebeldia calma.
Curiosamente, essa sensação me
acompanhou durante cada minuto de The
Avengers. Ouvi alguém dizer que
aquele filme era uma suruba nérdica,
mas a minha sensação foi a de uma suruba mítica. Tive a impressão de presenciar
todos os mitos mais queridos à cultura norte-americana serem apresentados sem
disfarces; e não falo aqui dos personagens em si, dos super-heróis, que não
considero como personagens mitológicos. Falo do mito do salvador da pátria, do
soldado de bom coração que luta como última opção, do homem cético que acaba
por acreditar, da guerra como único caminho para a paz, do sacrifício em nome
de um bem maior, da defesa do mundo, do mal personificado no estrangeiro, da liderança pela coragem
e não pela sabedoria, da força do conjunto, da família como bem divino a ser
protegido. Todos os mitos dessa fascinante cultura, repetidos tantas vezes em
suas histórias, encarnados com tanta fé na imagem que eles constroem deles
mesmos, pareciam desfilar nus.
Desfilavam nus entre as cenas de
ação e as piadas estrategicamente calculadas, entre as cores e estilhaços
jogados contra a plateia. Desfilavam nus, com o desprendimento dos que sabem
que vão morrer. A nostalgia é mesmo um tipo de ritual fúnebre. É velar o corpo
do morto. Não que a cultura norte-americana esteja morrendo. Mas, não sei
porque, foi isso que senti ao ver esse filme.
Eu bem que não reclamaria de ver o Thor andando nu de forma não metafórica, Zé.
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