segunda-feira, 28 de julho de 2008

Será


Eu sempre fui da turma do violão. Vocês sabem bem, daquele grupinho chato que chega em toda festa e quer logo formar uma roda. Ocupa a sacada, a borda da piscina, o sofá inteiro, senta no chão quando preciso. Por um lado é vantajoso pros donos da festa, já que esse pessoal só come até a hora de tocar. Depois, eles sobrevivem só de música, e se tornam aéreos, transcendentes. Lá pelas tantas, os anfitriões se aproximam e pedem para que eles abaixem o volume, os vizinhos estão reclamando, mas eles já não escutam. Uma vez formada a roda, só escutam pedidos e palmas. Toca aquela, toca essa. E quase sempre não tocam nada do que foi pedido, por que só sabem legião urbana. Sempre as mesmas da legião urbana, claro. Às três da manhã, num frio de rachar, sobram só os tocadores, que ainda não perceberam o fim da festa e os vizinhos de pijama se aproximando com facões e tochas.

Eu sempre fui da tal turma do violão. Agora não sou mais. Descobri isso faz pouco tempo, quando sentei em uma rodinha e não consegui mais tocar. As músicas que eu toco ninguém conhece, e eu definitivamente não conheço música sertaneja. Foi algo como um auto-exílio. Por gostar de bandinhas que pouca gente conhece, acabei com uma pasta cheia de cifras e músicas que causam testas franzidas e frases soltas: “ essa eu não sei”. E, sem respaldo popular, fui perdendo o viço.Tento acreditar que não é o caso de eu estar ficando velho e as rodinhas de violão estarem ficando novas demais.

Hoje acho triste, não ter mais a vontade de antes. Havia qualquer coisa de nobre e singelo naquela adolescência agarrada ao violão. Era quase um celibato, percebe-se. Em vinte minutos de roda de violão, todas as mocinhas das festas já estavam entretidas, e tudo se transformava num luau romântico para os outros. Da mesma forma como era um prazer inexplicável as tentativas de montar banda, os acordes novos, os solinhos decorados. Só quem já tentou ir para um estúdio tocar Nirvana e o baterista só saber acompanhar forró sabe do prazer intrínseco. Só quem já fez versão punk rock de ciranda cirandinha sabe. Mas bem, estou me ensopando em saudosismo e nem tenho mais de setenta anos para isso. Tudo para dizer que perdi o gosto pela viola e joguei fora minhas camisas pretas de banda.

5 comentários:

  1. ...o grupo do violão! isso é até saudosita! Mas é interessante como atualmente o brega é nao saber sertanejo, até o pop e rock inverteram pra umas modinhas emos sem nexo.

    As vezes tb tenho esse sentimento, é como se meus gostos ou aqueles discos e cd's nao fizessem sentido pra essas pessoas. Ainda gosto da turma do violão, só nao sei tocar, hehe!

    um abraço!

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  2. anãããão zé...vc e o violão são tão lindos juntos ^^

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  3. três comentários:

    1. Eu sempre quis ser do grupo do violão!!! E ainda serei. Aprender a tocar é um projeto que ainda colocarei em prática na minha vida, pra não ficar apenas do lado do grupinho querendo cantar alguma coisa.

    2. Acho que eu participei desse seu momento "desencantamento" do violão né?! Eu devia ser a que mais dizia: "essa eu não sei". Foi mal aí!

    3. zé, você, definitivamente não pode sair do grupo do violão!!!!!!! Eu nem cantei com você ainda, não me faça essa desfeita. =/

    =*****

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  4. Tudo viadagem, Zé!

    Talvez seja a hora de criar a roda de violão do contra, uma resistência contra a ofensiva sertaneja que assola as rodas por aí.

    Bjo!

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  5. Nunca gostei da idéia de ser "da galera da rodinha". Soa como algo pornográfico, sei lá. E tenho a impressão de ter presenciado, o que é raro, o momento que tanto te desanimou.

    Espero não ter a ver com meus pedidos de Lapada na Rachada, juro que era brincadeira. Mas que eu de fato conhecia um monte das músicas, sem saber a letra, isso lá é verdade...

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pode falar, eu não estou ouvindo